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    Patrícia Campos Mello

    Embargo a Cuba isola os EUA

    31/01/2014 03h30

    DE HAVANA - Todos os chefes de Estado que se dirigiram para a Pabexpo, onde foi realizada esta semana a cúpula da Celac, em Havana, passaram por um outdoor contundente: mostrava o mapa de Cuba envolto por uma forca, com os dizeres "Bloqueio - o genocídio mais longo da história".

    O tempo urge para os Estados Unidos e sua política de embargo contra Cuba, instituída em 1962.

    A União Europeia começa a negociar no mês que vem um acordo para aumentar o comércio, investimentos, e aprofundar os laços com Cuba, ao mesmo tempo em que discute direitos humanos.

    Durante a Celac, ainda que por gentileza para o anfitrião, quase todos os 33 chefes de Estado e representantes foram uníssonos ao condenar o embargo.

    Um deles foi a presidente Dilma Rousseff, ao afirmar em seu discurso na inauguração do porto de Mariel que Cuba sofre "um embargo econômico injusto".

    José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA , esteve na ilha. A visita foi importante, trata-se da primeira vez que um secretário geral visita o país desde que Cuba foi suspensa da instituição, em 1962. Em 2009, a OEA revoou a suspensão. Mas Cuba não quer voltar. Vê a OEA como uma organização contaminada pelo "imperialismo americano".

    Daí a Celac, que foi criada em 2010, idealizada por Hugo Chávez como alternativa à OEA.

    O governo americano tem consciência de que, no ano que vem, será insustentável realizar a Cúpula das Américas sem a participação de Cuba. E que a política de isolamento a Cuba é insustentável.

    Mas há alguns nós a desatar.

    Um deles se chama Allen Gross. Ele foi preso em Havana em 2009, acusado de participar de uma iniciativa do governo americano para montar uma rede clandestina de internet em Cuba. Foi condenado a 15 anos de prisão e está doente.

    Outro são os "Cinco Heróis" ou "Cinco Cubanos", para os americanos. Há cartazes sobre eles espalhados em toda a ilha, pedindo sua libertação e homenageando seus feitos. Eles foram presos pelo FBI em 1998, acusados de serem espiões de Fidel Castro, e condenados. Haviam se infiltrado em uma organização anti-Castro nos EUA. Um deles, René Gonzalez, foi solto e deportado para Cuba. Outro, Fernando Gonzalez, deve ser solto no mês que vem. Faltam três, que continuam na prisão, em solo americano. Havana afirma que a prisão é injusta e que eles estavam apenas coletando informações sobre grupos de guerrilha que planejavam ataques terroristas contra a ilha.

    Havana já deu a entender que aceitaria libertar Gross se os EUA soltassem os integrantes dos "Cinco heróis" que ainda estão presos. O governo americano se nega a discutir essa possibilidade.

    Já passou da hora de os EUA reverem sua política para a ilha. E enxergarem que, em vez de isolar Cuba, os americanos é que estão cada vez mais isolados.

    Os EUA vão ter que enfrentar o lobby anticastrista em algum momento e admitir que o embargo não está resultando em abertura democrática na ilha, nem respeito aos direitos humanos - ao contrário, os EUA e o embargo são um conveniente bicho-papão para os líderes de Cuba.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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