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    Patrícia Campos Mello

    O Brasil e os protestos na Venezuela

    07/03/2014 21h55

    A ONU pediu ontem que o governo venezuelano preste esclarecimentos sobre as alegações de prisões arbitrárias e violência contra manifestantes e jornalistas. Desde 12 de fevereiro, os protestos deixaram um saldo de 18 mortos e mais de 260 feridos, a maioria em confrontos com a polícia ou com as milícias chavistas (os chamados coletivos).

    "A violência recente em meio aos protestos na Venezuela precisa ser investigada e os culpados precisam ser responsabilizados", disse o grupo de investigadores independentes da ONU.

    Enquanto isso, o governo brasileiro mantém seu silêncio ensurdecedor em relação aos conflitos na Venezuela (isso quando não subscreve notas do Mercosul e Unasul de apoio tácito ao presidente Nicolás Maduro).

    Na reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, na quarta-feira, a ministra da secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, ignorou solenemente a tensão no país vizinho em seu discurso. Mas ela achou tempo para mencionar todos os slogans do governo Dilma: "A Copa das Copas" a preocupação com a espionagem da NSA, o pleno emprego, redução de desigualdade, o Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos.

    O ministro das relações Exteriores da Venezuela, Elias Jaua, usou a mesma sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU para acusar a mídia internacional e nacional de "guerra psicológica " contra a Venezuela.

    Ele afirmou que essa "propaganda" era apoiada "por governos que transformaram direitos humanos em uma arma para punir governos independentes e justificar intervenções estrangeiras em nossos assuntos internos."

    Ou seja, um legítimo lance "mate o mensageiro", mais uma alfinetada nos EUA, que de fato abusam da moeda "direitos humanos", mas só quando lhes convêm.

    O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em comunicado conjunto com o ex-presidente da Costa Rica, Oscar Arias, do Chile, Ricardo Lagos, e do Peru, Alejandro Toledo, foi enfático (obviamente, como não está mais no poder, tem muito mais espaço para fazer declarações contundentes); "Manifestações estudantis de protesto pacífico contra as políticas do governo, fato normal em qualquer sociedade democrática, têm sido objeto de uma repressão desmedida por parte das forças de segurança e de ataques por parte de grupos armados ilegais que alguns meios de comunicações vinculam com partidos políticos no governo, diziam no comunicado.

    "Estes fatos estão na origem de uma alarmante escalada de violência e de uma rápida deterioração da situação dos direitos humanos no país. "

    Mas a frustração com a inação brasileira vem também de parte do povo da Venezuela.

    "O silêncio de Dilma Rousseff tem sido realmente decepcionante", disse Feliciano Reina Ganteaume, presidente da Civilis, entidade de direitos humanos da Venezuela. "Não é aceitável a desculpa de "não intervenção" nos assuntos internos de outros países, porque se trata de chamar a atenção do governo da Venezuela quanto ao cumprimento de suas obrigações internacionais de respeito às liberdades democráticas e aos direitos humanos. A mediação de países aliados poderia desempenhar um papel vital para interromper a repressão e as prisões arbitrárias. O governo venezuelano escolheu criminalizar os protestos. "

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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