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    Patrícia Campos Mello

    Milhares de crianças "ilegais" detidas em bases americanas

    20/06/2014 18h01

    A saia justa envolvendo a espionagem americana no Brasil era o menor dos problemas do vice-presidente Joe Biden em sua visita à América Latina. Hoje, Biden está na Guatemala, parada que foi acrescentada de última hora à viagem, para discutir o que a Casa Branca já chama de crise humanitária: a explosão no número de crianças sozinhas imigrando ilegalmente para os EUA.

    Biden se encontraria hoje com o presidente da Guatemala, Otto Perez Molina, o de El Salvador, Sanchez Ceren e altas autoridades de Honduras e México para debater o aumento no número de menores desacompanhados cruzando a fronteira do México com ajuda de coiotes.

    Segundo o Departamento de Segurança Interna, desde outubro do ano passado, 52 mil menores desses três países entraram sozinhos e ilegalmente nos EUA. Em 2011, foram menos de 4 mil.
    As bases para alojá-los nos EUA estão lotadas: o governo não tem advogados suficientes para representar os menores nos processos de deportação.

    A Casa Branca anunciou ontem que vai construir novos locais para abrigar as crianças. Os menores que têm parentes nos EUA (muitas vezes, os pais imigraram ilegalmente e pagam para que coiotes tragam os filhos) são liberados após alguns dias. Mas essas crianças serão sujeitas a processo e deportação da mesma maneira que adultos.

    Uma reportagem do NYT mostra a situação em uma base no Arizona que abriga as crianças e adolescentes pegos após atravessarem a fronteira dos EUA com o México - agentes da polícia ficam lá de "babá", há uma enorme dificuldade para lidar com essas crianças.

    Os pais em El Salvador, Guatemala e Honduras, desesperados com a violência das gangues e falta de perspectiva para os filhos, pagam coiotes para levar as crianças e adolescentes até os EUA. O salto na imigração se deu também por causa do boato de que, uma vez em território americano, crianças seriam automaticamente legalizadas.

    A missão de Biden na Guatemala era deixar claro que "deixar seu filho nas mãos de uma organização de tráfico de pessoas não é seguro e que essas crianças não ganharão cidadania."

    Hoje, a Casa Branca anunciou uma série de medidas para lidar com a crise das crianças ilegais: mais advogados para cuidar dos processos de deportação, mais centros para abrigar crianças e famílias ilegais, e ajuda financeira para Honduras, Guatemala e El Salvador combaterem o crime.
    Mas o governo guatemalteco esperava que os EUA oferecessem maior segurança para os menores que atravessam a fronteira. No trajeto, muitos sofrem violência ou são estuprados.

    O chanceler da Guatemala, Fernando Carrera, disse que iria pedir a Biden vistos temporários para os menores ilegais, para que eles não tivessem de retornar ao país, onde enfrentam o perigo das gangues.

    O governo Obama tem rechaçado esses pedidos.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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