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    Patrícia Campos Mello

    O significado do Banco dos Brics

    18/07/2014 02h00

    Em meio à discussão "Fla-Flu" sobre quem ia presidir a instituição, deixou-se de ressaltar o enorme significado da fundação do Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics.

    Trata-se da primeira instituição que se propõe a ser uma alternativa para o Banco Mundial e simboliza um contraponto ao sistema de Bretton Woods, concebido após a Segunda Guerra Mundial.

    O sistema está ultrapassado, pois reflete uma ordem mundial que não mais vigora. Os países emergentes vêm lutando por reformas para que seu tamanho e relevância sejam melhor refletidos nas cotas do FMI, que determinam o poder de voto, e na direção das instituições, que são reservadas apenas para europeus, no caso do FMI, e americanos, no Banco Mundial.

    Tais reformas, apesar de terem sido aprovadas em 2010 na reunião do G20, não saíram do papel até hoje, em grande parte porque não foram ratificadas pelo Congresso dos EUA. Portanto, a frustração dos emergentes é compreensível.

    Tendo dito isso, é preciso ter muito cuidado com essa fúria reformadora.

    O banco dos Brics tem como objetivo oferecer mais financiamentos para projetos de infraestrutura em países emergentes, com o argumento de que as atuais instituições não dão conta da demanda.

    Mas também representa uma crítica às condicionalidades dos empréstimos tanto do Banco Mundial quanto do FMI. No caso do Banco Mundial, compromissos com democracia, direitos humanos, que em tese são muito nobres, mas às vezes eram usados de forma seletiva e de maneira a manipular a política local. E eram créditos ditados de cima para baixo: em vez de perguntar que projetos os países queriam ver financiados, muitas vezes eles eram impostos.

    No caso do FMI, créditos de emergência vinham atados a receitas de austeridade que, como se viu, deram bem errado na crise asiática nos anos 90 e na Grécia recentemente.

    O perigo é migrar para o extremo oposto, e conceder créditos sem o mínimo critério –como a China faz em países como o Zimbábue ou nações com recursos minerais e energéticos.

    Como diz Caio Borges, assessor do projeto de empresas e direitos humanos da Conectas, o novo banco deve ter "diretrizes claras para concessão de crédito nas dimensões socioambiental e de proteção aos direitos humanos, e deve averiguar se as comunidades afetadas foram devidamente consultadas sobre a realização dos projetos."

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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