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    Patrícia Campos Mello

    A política externa do(a) próximo(a) presidente

    12/09/2014 05h00

    Como costuma acontecer, a política externa é um tema ausente das discussões eleitorais.

    Em 2010, o tópico só entrou na pauta de forma tangencial, quando o então candidato do PSDB José Serra acusou a Bolívia de ser conivente com o tráfico de drogas e o governo federal de ser omisso.

    Neste ano, segundo informou o Painel da Folha, a campanha de Dilma Rousseff pretende usar a política externa como mote dos próximos ataques contra Marina, depois de iniciar a "desconstrução" da candidata do PSB acusando-a de ser sustentada por banqueiros e de negligenciar o pré-sal. O PT argumenta que, ao defender que questões ambientais e de direitos humanos sejam levadas em conta nas negociações sobre comércio internacional, Marina vai ameaçar o comércio do país, porque pode afetar vendas de empresas brasileiras para países como China e Rússia.

    O fato é que seria salutar que os candidatos respondessem a algumas perguntas sobre política externa, que foi negligenciada no governo Dilma.

    Abaixo, alguns pontos que deveriam ser esclarecidos:

    1 - Como ressuscitar o Mercosul? Como estancar a perda de mercado das exportações brasileiras na Argentina para importações chinesas baratas? Você defende uma flexibilização das regras do Mercosul? Defende transformar o bloco em acordo de livre comércio? Como irá lidar com a presença da Venezuela no Mercosul?

    2 - O Brasil perdeu o bonde dos acordos comerciais no mundo e assiste impassível á formação de megablocos regionais como o TPP e o Ttip. Qual será sua estratégia para fechar acordos comerciais? Quais países ou regiões serão prioridade? irá buscar um acordo com a Aliança do Pacífico?

    3 - Um dos principais empecilhos ao acordo UE-Mercosul é a Argentina, que reluta em reduzir a tarifas na mesmo ritmo que os outros países. Qual seria uma abordagem viável para concluir o acordo? concluir o acordo só com os países que já atingiram o nível de desgravação necessário?

    4 - Desde as revelações de espionagem da NSA há um mal estar com os EUA e congelamento na relações. Você vai esperar por um pedido formal de desculpas? Ou já irá iniciar uma reaproximação, e de que forma?

    5 - Como pretendem aumentar a inserção do Brasil nas cadeias de valor globais? Manterá as políticas de conteúdo local inalteradas? Como reverter a perda de produtividade dos industrializados nos mercados de exportação?

    6 - No caso do alinhamento com os Brics, como conciliar a defesa dos direitos humanos e o princípio de não intervenção nos assuntos internos de cada país, em casos como invasão da Crimeia, repressão a dissidentes chineses, intervenção na Síria?

    7 - Como pretende revalorizar o Itamaraty? Acha que o próximo chanceler deve ser um político, com bom trânsito com o Executivo e Legislativo, para dar mais força ao ministério?

    Essas são apenas algumas das questões que seria importante discutir.

    Obviamente, os candidatos vão continuar acusando um ao outro de tentar acabar com o Bolsa Família, ser sustentado por banqueiros, ter destruído o PIB do país, etc etc..

    Mas ainda tenho esperança de que, em algum momento, a política externa será discutida.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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