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    Patrícia Campos Mello - Patricia Toledo de Campos Mello, Patrícia Campos Mello

    Em defesa dos "sincericídios" da campanha da Marina

    19/09/2014 05h00

    A campanha de Marina Silva (PSB) viveu momentos de "barata voa" nos últimos dias.

    Encarnando a "novidade", Marina precisa cortejar eleitores, e, principalmente, financiadores de campanha e formadores de opinião. Daí que ela e seus assessores têm embarcado em um road show frenético e concedido muitas entrevistas.

    O problema é que a mensagem, muitas vezes, tem saído truncada.

    No afã de dizer exatamente o que os interlocutores desejam ouvir, muitos assessores da presidenciável se atropelaram ou cometeram "sincericídio".

    Segundo relatou o jornal "Valor", o vice de Marina, Beto Albuquerque, assegurou aos executivos do setor da carne, da Abiec, que a bandeira da sustentabilidade defendida por Marina deve ser encarada como uma "grife" e não como "entrave".

    Oi?

    Interessante dizer que, no mesmo encontro, Albuquerque não mencionou a expressão "desmame", utilizada por Eduardo Giannetti, principal assessor econômico, para se referir a empresas. "Acho que a indústria deve se preparar para uma operação desmame. Ela está acostumada a chorar e ser atendida.", disse Giannetti em entrevista ao "Valor".

    Vale lembrar que o setor de carnes é uma dos maiores beneficiários da política de eleitos de crédito subsidiado do BNDES.

    Outro que cometeu sincericídio foi Alexandre Rands, economista que é irmão do coordenador do programa de Marina, Maurício, e atua como conselheiro econômico na campanha

    Ao jornal "O Globo", disparou : "Dilma detesta os empresários, mas todas as políticas são para eles fazerem o que bem entenderem. O governo bate, mas depois convida para um drinque. Trata os empresários como prostitutas. Quer estar com eles, desfrutar de suas benesses, mas depois vai criticar, denegrir sua imagem."

    Antes, Rands havia dito à Folha que seria mais realista ter uma meta de inflação mais alta no ano que vem para acomodar os reajustes na gasolina e nas contas de luz. Em encontro com investidores, havia afirmado ser "preciso acabar com a hipocrisia", referindo-se à dificuldade que o governo tem encontrado para alcançar a meta atual.

    Rands foi prontamente desautorizado pró-Marina.

    Marina também desautorizou seu coordenador de campanha, Walter Feldman, quando ele criticou o modelo de exploração do pré-sal e as regras de conteúdo local. "A figura do operador único não é benéfica para a Petrobras nem para a indústria brasileira. Precisamos de multiplicidade de atores", disse, segundo relatou a Folha. E indicou que a política de exigência de conteúdo local precisa ser alterada. "Interessa muito o desenvolvimento brasileiro, mas não pode ser de caráter doutrinário, imaginando que nós temos a capacidade de responder a tudo", afirmou.

    Que o BNDES errou a mão em seus financiamentos subsidiados, está claro, e a campanha de Marina também acha; que a meta de inflação de 4,5% para o ano que vem é irreal também está claro. Assim como as fragilidades da política de conteúdo local e de ter a Petrobras como operadora única no pré-sal.

    O problema é que, durante a campanha, essas declarações mais contundentes, se é que podemos assim caracterizá-las, transformam a candidata em vidraça certa. E isso acaba aumentando o incentivo para a presidente Dilma Rousseff e o candidato Aecio Neves, do PSDB, continuarem com seus programas de governo esquálidos e sem conteúdo, apenas pro forma, e manterem suas declarações vagas e eleitoreiras.

    Que puxa.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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