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    Patrícia Campos Mello

    Os EUA e as cadeias produtivas na América Latina

    31/10/2014 09h00

    É sempre elucidativo ler o que os estrangeiros escrevem sobre o Brasil - estejam eles equivocados ou não.

    Os relatórios do Congressional Research Service (CRS), entidade governamental que elabora análises para os congressistas americanos, são uma boa amostra do que Washington pensa.

    Em relatório de 29 de agosto deste ano, especialistas em América Latina do CRS apontam para a importância do comércio dos EUA com a América Latina.
    Os Estados Unidos respondem por cerca de 40% das exportações e importações da região.
    Além do Nafta, que entrou em vigor em 1994, o país tem 6 acordos de livre comércio com 11 países da América Latina: México, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e Peru.

    E se prepara para se integrar ainda mais, com a conclusão da Parceria Trans-Pacífico (a TPP, que ainda pode demorar para sair do papel, dadas as divergências com os japoneses) e possível negociação com a Aliança do Pacífico, formada por México, Chile , Peru e Colômbia, que tem os americanos como observadores..

    O recalcitrantes são Venezuela, Argentina e Brasil, que se recusam a entrar em qualquer negociação comercial com os EUA desde o trauma da Alca.

    O governo brasileiro acredita que comércio não é o xis da questão. O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmou recentemente que comércio não é tudo e o mais importante seria uma integração de infraestrutura na América do Sul para impulsionar cadeias produtivas na região.

    E lembra que certamente um acordo com os EUA teria provisões em áreas como propriedade intelectual, direitos trabalhistas e proteção ao ambiente que, como sabemos, muitas vezes são disfarce para medidas protecionistas.

    Mesmo assim, é bom levar em conta a motivação dos EUA.

    "À medida em que os salários aumentam no leste da Ásia e a produtividade aumenta nos países que têm acordos de livre comércio com os EUA, como o México, muitos analistas têm sugerido que os EUA usem a política comercial para aumentar a cooperação regional e melhorar as cadeias produtivas regionais", diz o relatório.

    O Brasil (onde a produtividade patina, diga-se de passagem) mais uma vez estará fora dessa integração.

    O país perdeu o bonde das cadeias produtivas globais e atualmente não está inserido nessa que é a principal forma de interação econômica entre os países hoje em dia.

    • Entre parênteses: é duro crescer e amadurecer.

    Brasil já foi excluído do Sistema geral de Preferências da União Europeia. Vira e mexe, há ameaças de exclusão do SGP americano. Enquanto isso, a ajuda externa dos EUA ao Brasil deve sofrer uma queda drástica no ano que vem: passou de US$ 23,3 milhões em 2011, para US$ 18,03 milhões em 2012, US$ 15,18 milhões em 2013, US$ 13,86 milhões em 2014 e US$ 3,365 milhões em 2015.

    Em relação a 2014, a ajuda vai encolher 75%.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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