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    Patrícia Campos Mello

    "Papel não tem perna" no novo Itamaraty

    27/02/2015 11h55

    A nova gestão Danese-Vieira começa a mostrar sua cara no Itamaraty. Depois de anos de postura meramente reativa, parece que o Ministério das Relações exteriores começa a reagir. E muitos estão otimistas com a combinação do estilo trator do secretário-geral Sergio Danese com a perspicácia política do chanceler Mauro Vieira.

    O secretário-geral do ministério, embaixador Sergio Danese, tem se reunido com chefes de departamento e de divisão para falar sobre novas diretrizes: o ministério precisa ter maior transparência com a imprensa, tem de ser mais pró-ativo nas gestões com o Executivo e o Congresso, e é hora de "racionalizar" os postos no exterior.

    Desde que vieram à tona as dificuldades financeiras de várias embaixadas e consulados brasileiros —-por conta do corte de orçamento, muitos postos não têm recursos nem para pagar a conta de luz começou a se discutir o possível fechamento de representações no exterior. Se não há orçamento, seria hora de rever a política altamente expansionista do ex-ministro Celso Amorim.

    A mensagem do secretário-geral é a seguinte: a discussão óbvia seria fechar postos, mas há alternativas para apertar o cinto sem reduzir a presença brasileira no exterior. Ter representações mais ágeis e menores: alguns países têm postos com apenas um representante ou funcionam em um quarto de hotel, por exemplo. Residência e embaixada passarem a funcionar no mesmo lugar. Não adianta entrar em estado de negação achando que será possível reverter as tesouradas de Levy, a solução é achar maneiras de continuar presente no exterior, com menos dinheiro. É precisa "otimizar postos" e "se adaptar ao século 21", é a mensagem.

    "Papel não tem perna" é uma frase que vem sendo repetida por Danese. É preciso que o Itamaraty se articule mais com o Executivo e o Congresso, faça mais "gestões" defendendo seus pontos. Esse corpo a corpo era evitado. O chanceler Mauro Vieira estaria especialmente bem equipado para essa tarefa.

    Entre os diplomatas, há a esperança de que a atual gestão irá "peitar" mais a presidente Dilma Rousseff.

    Anteriormente, muitos pleitos do Itamaraty nem sequer chegavam até a presidente, por medo de irritar Dilma, conhecida pela falta de paciência. Isso incluía desde a mera necessidade de assinaturas presidenciais para acordos internacionais até assuntos mais indigestos —nada chegava até Dilma. Como resultado, uma acumulação de atos internacionais não sancionados ou não enviados pela presidência ao Congresso.

    Na quarta-feira (25), houve sinais animadores no Diário Oficial —três atos assinados por Dilma e quatro encaminhados pela presidente ao Congresso.

    Em relação à imprensa, o Itamaraty precisa trabalhar melhor para "influenciar" o noticiário e acabar com a lei do silêncio que vinha prevalecendo.

    Os diplomatas estão animados. Apesar de escaldados, alguns apostam que o ministério recuperará a relevância que tinha. Resta agora torcer para que o Itamaraty não esmoreça diante da dificuldade de fazer política externa em tempo de vacas esquálidas.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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