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    Patrícia Campos Mello

    Reta final de combate ao Ebola

    06/03/2015 10h00

    Finalmente boas notícias na guerra contra o Ebola na África Ocidental: o último paciente com o vírus Ebola na Libéria recebeu alta nesta quinta-feira (5). Com isso, o país que teve o maior número de pessoas mortas por causa do Ebola (4.117) está com zero casos em tratamento. Se dentro de 42 dias (duas vezes o período máximo de incubação do Ebola) não houver nenhum caso novo, a epidemia na Libéria terá oficialmente acabado.

    Mas é bom não se precipitar. Primeiro, porque ainda podem surgir novos casos na Libéria. Segundo o ministério da Saúde do país, 214 pessoas estão sendo monitoradas por causa de possível exposição ao vírus.
    Segundo, porque a situação em Serra Leoa e Guiné continua grave, apesar de o ritmo de infecção ter caído significativamente nos últimos seis meses.
    O ebola é transmitido por meio do contato com fluidos corporais (sangue, suor, fezes). Desde o início da epidemia, no ano passado, 23.983 pessoas foram contaminadas e 9.823 morreram.
    O maior número de casos ocorreu em Serra Leoa (11.497, com 3.565 mortes), Libéria (9.249 casos, 4.117 mortes) e Guiné (3.237 casos, sendo 2.141 mortes).
    "A próxima fase da luta contra o Ebola, chegar a zero casos, é a parte mais difícil", disse à Folha Joanne Liu, presidente dos Médicos sem Fronteiras, principal organização no combate à doença. É preciso um trabalho meticuloso de monitorar pessoas que entram em contato com infectados, além de enfatizar as campanhas de informação.
    "Com a redução no número de casos, corremos o risco de perder o sentimento de urgência para desenvolver vacinas e remédios."
    Segundo Joanne, a comunidade internacional foi muito lenta em sua resposta à epidemia. "Se algo parecido acontecer amanhã, nós continuamos despreparados para enfrentar. Se tivéssemos nos organizado melhor, poderíamos ter evitado a tragédia de 2014; foi um fracasso coletivo."
    Além de se concentrar nessa reta final de combate à doença, a comunidade internacional precisa lidar com os efeitos devastadores do Ebola na África Ocidental. A presidente da Libéria, Ellen Sirleaf Johnson, falou sobre a necessidade de um "Planbo Marshall" para as nações afetadas, referindo-se ao programa de recuperação da Europa após a Segunda guerra Mundial.
    Segundo estudo do Banco Mundial, haverá uma perda de US$ 1,6 bilhão no PIB dos três países por causa da doença, equivalente a mais de 12% da economia dessas nações.
    O sistema de saúde desses países, que já não era bom, está em frangalhos. Muitos médicos e enfermeiras morreram contaminados, todos os hospitais estão sobrecarregados. Na Libéria, por exemplo, há uma epidemia de sarampo em curso - e num país já fragilizado pelo ebola e pela pobreza, a doença pode causar enormes estragos.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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