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    Patrícia Campos Mello

    O Banco dos Brics perdeu o brilho?

    27/03/2015 09h00

    Enquanto a China anuncia com fanfarra seu Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), o nosso Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como banco dos Brics, continua firme e forte sem sair do papel.

    O AIIB terá capital inicial de US$ 50 bilhões e participação de países europeus como Reino Unido, França, Alemanha e Itália - para horror dos Estados Unidos, que tentaram dissuadi-los.

    Na opinião de Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV-SP, o AIBB é um divisor de águas. "O AIIB representa um momento chave de transição para a multipolaridade", diz. Ou seja, com o banco de desenvolvimento concebido pela China, reduz-se de forma significativa a dominância de órgãos representantes da velha ordem mundial, como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, liderados por EUA-UE.

    O fato de países europeus terem aderido ao AIBB sinaliza que a China agora tem "poder de convocação", e não apenas musculatura financeira.

    Muito disso se deve a barbeiragens americanas - não custa lembrar que o Congresso dos EUA não ratificou, até hoje, a reforma do FMI negociada em 2010. A reforma aumentava o poder de países como China e Brasil no organismo.

    BRICS

    A Índia e a Rússia já ratificaram o acordo que cria o banco dos Brics. A África do Sul enviou o texto para seu parlamento. No Brasil, o acordo está parado no Congresso.

    A próxima reunião de presidentes dos Brics será nos dias 9 e 10 de julho na cidade de Ufa, na Rússia. O mínimo que o Brasil poderia fazer seria apresentar o acordo do Banco ratificado. A tramitação não deve ser afetada pela crise econômica, afinal o aporte neste primeiro ano é de apenas US$ 150 milhões e, no segundo ano, de US$ 250 milhões. Serão sete anos até que o banco esteja com a capitalização de US$ 10 bilhões, distribuída entre Brasil, África do Sul, Índia, China e Rússia.

    O banco dos Brics deve começar a funcionar em 2016 e a sede será em Xangai. O primeiro presidente será indiano e o presidente do conselho, brasileiro.

    O AIIB mostra que as ambições da China vão muito além do banco dos Brics. Já entrou em operação o Silk Road Fund, um fundo de US$ 40 bilhões que visa a desenvolver a região da Rota da Seda e está sendo chamado de Plano Marshall chinês. Vem aí uma ordem financeira sinocêntrica?

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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