• Colunistas

    Tuesday, 07-May-2024 00:40:03 -03
    Patrícia Campos Mello

    Estado Islâmico: missão não cumprida

    22/05/2015 09h30

    Na semana passada, o general Thomas D. Weidley, chefe de gabinete da operação dos EUA de combate ao Estado Islâmico, afirmou a jornalistas: "No Iraque e na Síria, o Daesh (como é chamado o EI em árabe) está perdendo e continua na defensiva."
    Naquele mesmo dia, o Estado Islâmico retomou a cidade iraquiana de Ramadi, aproveitando-se de uma tempestade de areia que inviabilizou ataques aéreos americanos e de uma vexaminosa debandada do exército iraquiano.

    Mais um pouco e Weidley reedita aquela cena clássica - e patética - do ex-presidente George W Bush em frente a uma faixa com os dizeres "Missão Cumprida", comemorando o "fim" das operações de combate no Iraque, em 1 de maio de 2003.

    Após a ofensiva americana e iraquiana em Tikrit, cidade natal de Saddam Hussein, e a retomada de Kobani, na Síria, pelos curdos, o declínio do Estado Islâmico era dado como certo.
    Observadores vaticinavam que os fundamentalistas não iriam manter seu domínio por muito mais tempo, porque perdiam terreno rapidamente. E a retomada de Mossul, cidade a oeste de Erbil que é a capital de facto do EI no Iraque, seria questão de poucos meses.
    A queda de Ramadi foi um banho de água fria. E nesta quinta (21), o EI tomou Palmyra, a cidade histórica da Síria. Levando-se em conta o que os fundamentalistas islâmicos fizeram com as ruínas de Nimrod e com o museu de Mossul, as perspectivas em relação a Palmyra são sombrias.
    Os milicianos do Estado Islâmico agora controlam quase metade da Síria.

    O presidente Barack Obama disse nesta quinta a Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic, que a queda de Ramadi foi apenas "um revés tático", mas que os EUA não estão "perdendo a guerra" contra o Estado Islâmico.
    Mas uma entrevista de um alto funcionário do Departamento de Estado, que falou "em background", dá uma visão mais ajustada da realidade.
    Basicamente, os soldados iraquianos renderam-se sem resistência depois da invasão dos milicianos do EI em Ramadi. Não foi tão desonroso como Mossul - lá, o exército iraquiano desertou em massa e deixou para trás sofisticados armamentos fornecidos pelos EUA, que hoje são usado pelo EI. Parece que em Ramadi eles se lembraram de levar parte das armas.
    A queda de Ramadi mostra que a estratégia americana para comnbater o EI é falha. Com o veto de Obama a "boots on the ground", os americanos estão se valendo de ataques aéreos e treinando exército iraquiano. No caso dos peshmerga curdos no norte do país, a estratégia vingou. Mas na Sunitolândia do oeste do país, fracassa fragorosamente. O número de soldados americanos treinando iraquianos é insuficiente. E as forças iraquianas mostram-se completamente despreparadas.
    Segundo o funcionário americano, em 96 horas, o Estado islâmico detonou 30 carros bomba em Ramadi. Dez deles tinham capacidade explosiva semelhante ao atentado de Oklahoma - cada um!
    "Ninguém está dizendo que nós vamos conseguir superar esse revés imediatamente", disse o funcionário. Segundo ele, passaram-se apenas oito meses de um combate que vai levar pelo menos três anos. "Alguns dos prazos que foram apresentados anteriormente não eram realistas. Serão três anos."

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024