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    Patrícia Campos Mello

    Presos que menstruam, amamentam, cometem suicídio, apaixonam-se....

    10/07/2015 03h00

    Presos que menstruam, que dão à luz atrás das grades, que amamentam bebês em celas imundas, que se enforcam nas barras de ferro, que se apaixonam por outras presas.

    A jornalista Nana Queiroz passou cinco anos entrevistando esses seres invisíveis da sociedade brasileira –as presas. E o resultado é o livro que será lançado nesta segunda (13): "Presos que Menstruam: A Brutal Vida das Mulheres –Tratadas como Homens– nas Prisões Brasileiras", da Record.

    Reprodução
    Nana Queiroz, criadora da campanha "Não mereço ser estuprada" e autora de "Presos que Menstruam"
    Nana Queiroz, criadora da campanha "Não mereço ser estuprada" e autora de "Presos que Menstruam"

    Através de Safira, Júlia, Gardênia, Vera, Camila, Glicéria e Marcela, essas presas deixam de ser estatísticas insípidas e ganham contornos tridimensionais. Ficamos sabendo por que elas foram presas –não tinha dinheiro para comprar comida e começou a assaltar; o namorado usou uma casa em seu nome para um sequestro; assassinou a amante do marido em uma briga; foi mula de drogas; era usuária e também traficava.

    Muitas chegam à prisão grávidas, dão à luz na cela porque não chegam a tempo ao hospital e amamentam seus filhos até os seis meses, quando então são obrigadas a se separar da criança.

    Segundo estatísticas citadas por Nana no livro, cerca de 85% das mulheres encarceradas são mães. Quando detidas, os filhos são distribuídos entre parentes e instituições. Só 19,5% dos pais assumem a guarda dos filhos. Os avós maternos cuidam das crianças em 39,9% dos casos; 2,2% vão para orfanatos, 1,6% acabam presos e 0,9% internos de reformatórios juvenis.

    Para receber visitas, muitos parentes das presas são submetidos à medieval revista íntima, em que precisam se despir e agachar em cima de um espelho, para provar que não carregam drogas ou armas na vagina ou no ânus.

    Muitas são transferidas para prisões tão distantes de suas cidades que nunca recebem visitas. De ninguém.

    Nana ficou conhecida no ano passado ao liderar a campanha "Não mereço ser estuprada", em que várias mulheres tiraram fotos topless de si mesmas, com a frase escrita no corpo. Ela resolveu lançar a campanha depois da divulgação de uma pesquisa do Ipea em que 26% dos entrevistados diziam achar que mulheres de roupa curta "mereciam" ser estupradas.

    A foto de Nana foi tirada em frente ao Congresso, em Brasília.

    Com esse tour de force pelos presídios de todas as regiões do país, onde entrevistou dezenas de presas, Nana resgata sua luta feminista das redes sociais e traz para um mundo muito real.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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