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    Patrícia Campos Mello

    O fim do 'momento mágico' do Brasil

    11/09/2015 02h30

    O "momento mágico" do Brasil durou oito anos.

    Quando a agência Standard & Poor's elevou a nota de crédito do Brasil em 30 de abril de 2008, alçando o país ao almejado "grau de investimento", o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou:

    "Acabamos de receber a notícia de que o Brasil passou a ser 'investment grade'. Eu não sei nem falar direito a palavra ["investment grade"], mas, se a gente for traduzir isso para uma linguagem que os brasileiros entendem, o Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e que, por isso, passou a ser merecedor de uma confiança internacional que há muito tempo necessitava".

    Ele afirmou também que o Brasil passava por "um momento mágico".

    Rogério Uchôa - 30.mai.2008/"Diário do Pará"/Folhapress
    O ex-presidente Lula em Belém (Pará), no dia em que o Brasil virou 'grau de investimento
    O ex-presidente Lula em Belém (Pará), no dia em que o Brasil virou 'grau de investimento'

    Naquele dia em que o país recebeu o selo de bom pagador, a Bolsa subiu 6,33%, e o dólar caiu 2,4%, fechando em R$ 1,664.

    Nesta quinta-feira (10), um dia após o Brasil perder sua medalha de país confiável, o dólar fechou em R$ 3,85, uma alta de 1,35%, e a Bovespa caiu 0,33%.

    De Buenos Aires, Lula disparou: a perda do grau de investimento "não significa nada". "Significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem. A gente tem que fazer o que a gente quer".

    Ele aproveitou para criticar as agências de classificação de risco, que não usam os mesmos critérios para "países quebrados da Europa".

    De fato, a credibilidade das agências já foi melhor.

    Depois de comerem tanta barriga na crise de 2008, elas já não têm a mesma reputação. Mas, como diz um amigo do mercado financeiro, agência de classificação de risco é "lanterna na popa", ou "engenheiro de obra feita". Está apenas verbalizando o que já é realidade.

    Por isso mesmo, grande parte do impacto do rebaixamento já tinha sido "precificado" pelos mercados, ou seja, antecipando a perda do
    grau de investimento, muitos investidores já tinham vendido papéis e a moeda brasileira.

    O grande efeito do rebaixamento é político, não financeiro.

    É a cereja do bolo, o "eu te disse", o Schadenfreude (palavra alemã que significa "prazer com a desgraça alheia") de todos os que estão de olho na cadeira da Dilma (que é muita gente).

    Lá em 2008, no "momento mágico", Lula disse que o grau de investimento era o "o aval de que passamos a ser donos do nosso nariz e podemos determinar a política que acharmos conveniente para o Brasil".

    É, sem o carimbo de bom pagador, com o dólar ultrapassando R$ 4 e a dívida a mais de 60% do PIB, vai ser difícil continuar dono do próprio nariz.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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