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    Patrícia Campos Mello

    Ataque inaugura nova fase de atuação da facção terrorista

    14/11/2015 19h30

    Os ataques de Paris inauguram uma nova fase na atuação do Estado Islâmico e colocam em xeque a estratégia dos países ocidentais contra a facção terrorista.

    Antes, os islamistas eram focados em atentados menores a indivíduos ocidentais (o jornalista americano James Foley, que foi decapitado) ou grupos de "infiéis" (xiitas, cristãos, yazidi) dentro do Oriente Médio.

    Agora, os extremistas passam a apostar em ataques grandiloquentes, como a Al Qaeda em seu período de "glória", quando perpetrou os atentados do 11 de Setembro.

    A mensagem é clara: vão retaliar todos que se puserem no caminho do "califado", na Síria e no Iraque.

    Segundo mensagem do grupo publicada em árabe e francês em contas de redes sociais de apoiadores da facção, os locais foram "escolhidos cuidadosamente" e os ataques foram "os primeiros de uma tempestade".

    Pouco tempo depois de a Rússia aumentar sua participação na guerra da Síria, o EI reivindicou a explosão de avião da empresa russa Metrojet, que caiu no Egito com 224 pessoas a bordo.

    Quatro dias depois de caças franceses bombardearem um centro de distribuição de petróleo do EI na Síria, a França foi alvo do sangrento atentado terrorista.

    Segundo especialistas, foi um ataque muito bem planejado, com um bom tempo para treinamento e financiamento, o que normalmente não é a marca do EI, que usa mais "atiradores solitários".

    E pior: a grandiloquência dos ataques funcionará como um ímã para potenciais extremistas se juntarem ao EI.

    Nesta sexta (13), em uma declaração que será eternizada pela infelicidade do timing, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que a estratégia da coalizão contra o EI "conseguiu conter" a facção terrorista.

    Não apenas não conseguiu conter, como transformou os países da coalizão em alvos fáceis de atentados.

    Onde foram os ataques

    No curto prazo, devemos esperar que EUA, França e Alemanha aprofundem a tendência de considerar o ditador sírio, Bashar al-Assad, um mal menor e concentrem suas forças contra o EI.

    No médio prazo, os ataques podem acabar de destroçar o espaço Schengen, que permite livre trânsito de pessoas na UE.

    E os refugiados devem ser alvo de uma dose ainda maior de xenofobia. Foi encontrado um passaporte sírio ao lado do corpo de um dos homens-bomba no estádio de Paris. Não adianta explicar que a maioria dos sírios também é vítima do terrorismo, assim como os franceses.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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