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    Patrícia Campos Mello

    O dilema das 'botas no chão' na Síria

    20/11/2015 02h00

    Uma pesquisa conduzida no final de semana passada, imediatamente após os atentados de Paris, mostra que a maioria dos americanos têm medo de um ataque terrorista nos EUA (63%) e acha que o governo deveria fazer mais para combater o Estado Islâmico (60%).

    Mesmo assim, 76% se opõem ao envio de tropas terrestres para a Síria e o Iraque –as chamadas "boots on the ground", segundo o levantamento da Reuters/Ipsos.

    O presidente americano, Barack Obama, afirmou na semana passada, em timing incrivelmente infeliz, que a coalizão tinha conseguido "conter" o EI.

    O final de semana mostrou que a estratégia de fazer ataques aéreos e armar os curdos na Síria e no Iraque não está funcionando.

    Está certo, os curdos, com apoio da coalizão, conseguiram retomar Kobani e Sinjar e impedir mais avanços nas áreas que ocupam. Mas Raqqa e Mossul continuam firmes sob poder do EI.

    Raqqa tem sido alvo de repetidos ataques aéreos dos franceses e dos americanos, mas muitos bombardeios atingem edifícios abandonados.

    Russos, que trabalham em colaboração muito próxima com as tropas do ditador Bashar al-Assad –e, por isso, tem melhor inteligência–, têm feito ataques mais eficientes.

    O fato é que não dá para entrar em uma guerra sem sujar as mãos. A ilusão de que os ataques aéreos resolveriam a "questão Estado Islâmico" caiu por terra depois de Paris.

    Sem medidas para cortar o financiamento do grupo, por exemplo, será muito difícil conter seu avanço. Por isso, tanto franceses quanto americanos estão mirando agora refinarias e instalações de exploração de petróleo controladas pelo EI.

    Mesmo assim, será que é possível virar o jogo sem enviar as tropas?

    A pesquisa mostra que, independentemente da resposta a essa pergunta, o governo americano não vai mandar mais soldados.

    Obama se elegeu prometendo tirar os EUA das guerras em que se envolveu (Iraque e Afeganistão).

    O fiasco do Iraque, onde a invasão americana ajudou a criar o EI, e da Líbia, onde a intervenção ocidental resultou em um Estado sem governo, estão frescos na memória.

    Os políticos republicanos podem até fazer suas bravatas eleitoreiras pedindo mais "botas no chão", como fez o candidato Jeb Bush.

    Na prática, as chances de Obama ou de o próximo presidente fazerem isso são minúsculas.

    No máximo, eles devem aumentar o número de integrantes das "special Ops" que eles mandam para a Síria e para o Iraque para treinar e auxiliar
    soldados locais. No máximo.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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