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    Patrícia Campos Mello

    Mídia dos Brics é novo alvo de "soft power" chinês

    03/12/2015 20h25

    DE PEQUIM - Um fundo de mídia dos Brics é a nova investida do governo chinês em sua campanha para conquistar corações e mentes ao redor do mundo.

    Na primeira Cúpula de Mídia dos Brics, organizada pela agência estatal Xinhua News, autoridades chinesas ressaltaram a importância de os países dos Brics terem uma fonte de notícias que não passe pelo filtro ocidental.

    "Exploraremos meios para reforçar cooperações multilateral e bilateral em divulgação de notícias, a fim de fazer em conjunto reportagens que reflitam de forma verdadeira a cooperação entre os países dos Brics", discursou Cai Mingzhao, presidente da Xinhua.

    Ficou acertado ao fim da cúpula (sem discussão, é bom dizer) que órgãos de imprensa dos cinco países irão "colaborar" para colocar na mídia os temas caros aos Brics, de maneira "positiva".

    Li Tao/Xinhua
    Liu Yunshan, membro permanente do Politburo do PC chinês, em evento em Pequim no final de outubro
    Liu Yunshan, membro permanente do Politburo do PC chinês, em evento em Pequim no final de outubro

    De concreto, a Xinhua anunciou que vai financiar um fundo de "interesses comuns" para a mídia dos Brics, com programas de treinamento para jornalistas, compartilhamento de conteúdo das agências estatais de notícias de cada país e bolsas para jornalistas.

    A Xinhua, que é gigantesca –180 escritórios no mundo– se mostrou disposta a oferecer apoio financeiro, pessoal e de locais de operação para um "liaison office" da mídia dos Brics.

    A cúpula foi toda pompa e circunstância: teve banquete com lugares marcados, entradas com trilha sonora à la "Carruagens de Fogo" e vídeos superproduzidos.

    Os representantes de mídia convidados, entre eles a Folha, foram recebidos por Liu Yunshan, o membro permanente número 5 do Politburo do Partido Comunista (vulgo quem realmente manda na China).

    "Devemos construir um ambiente de opinião pública favorável às demandas e aos interesses dos cinco países", resumiu Mingzhao.

    POSIÇÃO DESAFIADORA

    Enquanto se empenha em agradar à mídia estrangeira (desde que não seja "The New York Times" escrevendo sobre escândalos de corrupção, claro), a China mantém seu posicionamento internacional desafiador.

    O governo chinês vem enervando os EUA e vizinhos como as Filipinas e o Vietnã ao "construir" ilhas artificiais para expandir seus limites marítimos.

    Ou seja, de um lado Pequim investe em "soft power" no resto do mundo –seja ao despejar dinheiro na África, seja ao abrir Institutos Confúcio ou criar um fundo de mídia dos Brics.

    De outro, mantém o Google bloqueado na China.

    Um dos objetivos da cúpula seria a criação de uma superagência de notícias dos Brics. O problema, como sempre, é que há Brics e Brics.

    Enquanto África do Sul, Índia e Brasil têm mídia livre, a Rússia e a China têm visões particulares sobre o funcionamento da imprensa.

    A jornalista PATRÍCIA CAMPOS MELLO viajou a convite da Xinhua News

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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