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    Patrícia Campos Mello

    Europeus reclamam de refugiados, mas quem mais sofre com a crise são países pobres

    18/12/2015 03h00

    Enquanto os europeus discutem medidas drásticas para restringir a entrada de refugiados e brigam para saber quem vai receber os sírios, os países que realmente arcam com o ônus da crise de refugiados são as nações pobres.

    Segundo a agência de refugiados da ONU, o ACNUR, o número de pessoas forçadas a deixar suas casas por causa de guerras, conflitos e perseguições deve ultrapassar 60 milhões em 2015 (estimativa conservadora), um recorde histórico (inclui tanto pessoas que vão para outros países como aqueles que são reassentados em suas nações de origem, chamados de deslocados internos).

    Entre os dez países que mais acolhem refugiados, não há nenhuma nação rica. A Turquia é o país que mais recebe - eram 1,84 milhão de refugiados em seu território em junho, a grande maioria sírios. O Líbano recebe mais refugiados em relação ao tamanho da sua população do que qualquer outro país do mundo, 209 refugiados por 1.000 habitantes (maioria sírios também). Entre os países que mais acolhem refugiados estão também Paquistão (afegãos), Irã (afegãos), Etiópia (somalis, eritreus, sudaneses e sul-sudaneses), Jordânia (sírios) e Uganda (sul-sudaneses e congoleses).

    O impacto econômico sobre esses países é enorme.

    O Acnur mede a contribuição dos países que acolhem refugiados por meio de um índice econômico, entre outros. Nesse índice, compara-se o total de refugiados com o PIB per capita (em paridade de poder de compra) de um país. Quanto maior o número de refugiados por US$1 de PIB per capita, maior o impacto econômico.

    A Etiópia é o primeiro país do ranking - 469 refugiados para cada US$ 1. Em segundo lugar vem o Paquistão, com 322 refugiados por US$ 1, seguido de Uganda (216), República Democrática do Congo (208), Chad (193) e Quênia (186).

    Agora, é sempre bom lembrar que refugiados não podem ser vistos apenas como ônus. Integrados e realmente acolhidos pela sociedade, eles representam mão de obra, cultura e mercado consumidor.

    Justamente na União Europeia, onde a gritaria é maior, o envelhecimento da população é um problema e os refugiados podem ser a solução
    .
    Esses índices mostram que, em vez de dizerem que estão sobrecarregados, países europeus deveriam é ajudar nações em desenvolvimento que já sofrem por causa de suas economias mais frágeis e, de fato, estão arcando com a maior parte do ônus dessa crise.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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