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    Patrícia Campos Mello

    A escalada da intolerância no Brasil

    25/12/2015 02h00

    Do alto do carro de som do Revoltados Online, durante o último protesto a favor do impeachment, o ex-global Alexandre Frota gritava: "Dizem que a classe artística é vendida, eu não sou vendido, vendido é a porra do Jô Soares, do José de Abreu, do Paulo Betti, do Chico Buarque de Hollanda, Gilberto Gil, esses caras todos vivem da lei Rouanet".

    No chão, alguns manifestantes vibravam: "é isso aí, Chico Buarque petralha, traidor, filho d...".

    Em post recente, o blogueiro Rodrigo Constantino, ex-Veja, chamou "Chico Buarque e sua gangue" de "canalhas".

    E nesta semana, o vídeo em que Chico Buarque é xingado —"Você é um merda; quem apoia o PT o que é?", diz um homem na frente de um restaurante no Leblon— viralizou nas redes sociais.

    Esse vídeo é só a última evidência de que o sectarismo chegou a níveis intoleráveis neste país.

    Você acha o governo Dilma um horror (como a grande maioria da população) e está com raiva do Chico Buarque porque ele vota no PT e pede votos para o PT? Não compre os CDs dele. Não baixe as músicas dele. Não vá no show dele. Se ele estiver fazendo proselitismo na internet e isso te incomodar, responda, argumente, critique a posição dele. Mas não chame o Chico Buarque de "um merda".

    Da mesma maneira, se você acha a política econômica um desastre, não grite com o ex-ministro da Fazenda no hospital onde ele está acompanhando a mulher. Vote na oposição.

    Existe liberdade de expressão. E existe agressão. Não, não são a mesma coisa.

    Feliz Natal.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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