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    Patrícia Campos Mello

    Ebola em Serra Leoa, zika em Serra Talhada: a penúria brasileira

    05/02/2016 02h00

    Quando estive em Serra Leoa em agosto de 2014, no pico da epidemia de ebola, fiquei impressionada com a falta de recursos para o combate à doença e para o atendimento aos infectados.

    Em Kailahun, distrito de Serra Leoa que era o mais afetado pelo ebola na época, havia 4 ambulâncias para atender 480 mil pessoas.
    Cada vez que alguém adoecia com ebola num vilarejo, eram grandes as chances de a família levar o doente em transporte público até o hospital, infectando ainda mais gente.

    Muitos médicos e enfermeiras acabaram se contaminando porque não tinham luvas, ou o equipamento de proteção estava rasgado.

    Dois anos depois, é a vez de o Brasil estar no epicentro de uma emergência internacional decretada pela Organização Mundial da Saúde , por causa da microcefalia ligada ao zika.

    Acabo de passar uma semana em Pernambuco conversando com mães, pais, médicos, integrantes do governo. O Estado é o epicentro da epidemia de zika e microcefalia - 1447 casos notificados, 153 confirmados.

    Na região de Serra Talhada, sertão de Pernambuco, há 47 casos notificados de microcefalia e 6 confirmados.

    Lá, o hospital de referência para atendimento de microcefalia, que atende 10 municípios, não tem nenhum neuropediatra, o profissional mais habilitado para atender bebês com a má-formação. Duas semanas atrás, não tinha pediatra de plantão para atender um bebê com microcefalia que sofreu convulsões.

    A situação é de penúria.

    Bebês com microcefalia não começaram a fazer a estimulação precoce que é essencial para eles desenvolverem seu potencial, porque o serviço de reabilitação ainda não está funcionando.
    Ainda não conseguiram contratar um terapeuta ocupacional.

    Serra Leoa é aqui.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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