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    Patrícia Campos Mello

    Tudo menos Trump, a hecatombe autobronzeada

    04/03/2016 02h00

    Quando o presidente americano George W. Bush foi reeleito, em 2004, o tabloide inglês "Daily Mirror" circulou com a seguinte manchete: "Como é que 59.054.087 pessoas podem ser tão burras?"

    Humor britânico à parte, o establishment republicano resolveu não se arriscar. Está apostando tudo na ofensiva "tudo menos Trump", uma última tentativa desesperada de deter o candidato que era piada e virou pesadelo.

    Milionários republicanos estão arrecadando recursos para super PACs que irão bombardear Donald Trump com propaganda negativa. A nata da "intelligentsia" de política externa republicana lançou uma carta-manifesto listando todos os motivos pelos quais Trump será pernicioso para o mundo.

    "Nós discordamos em várias questões, incluindo a guerra no Iraque e a intervenção na Síria. Mas estamos unidos em nossa oposição a uma presidência de Donald Trump", diz a carta divulgada nesta quinta.

    E Mitt Romney, candidato derrotado na eleição de 2012 e legítimo representante da moderação que entedia, fez um discurso chamando Trump de "fraude" e "hipócrita".

    Em condições normais de pressão e temperatura, os presidenciáveis americanos migram para os extremos durante as prévias, para conquistar o eleitor mais engajado e radical que sai de casa para votar na seleção do candidato do partido.

    Na eleição geral, os presidenciáveis fazem uma manobra e voltam para o centro, como forma de conquistar não apenas seus eleitores cativos, mas também independentes e, se bobear, alguns do partido adversário –única forma de ganhar o pleito.

    O senso comum diz que é impossível um candidato como Donald Trump, dono de opiniões radicais e xenófobas, ganhar uma eleição geral. Não tem como o eleitor independente votar nele. Haverá voto útil antitrump.

    Mas o senso comum foi o primeiro óbito do tsunami Trump, quando "o Donald" calou os céticos e passou a acumular delegados e mais delegados nas prévias, em vez de murchar como era previsto.

    Mas não adianta nada fazer uma ofensiva "tudo menos Trump" se não há consenso sobre a alternativa. O próprio Mitt Romney, em seu discurso, não declarou apoio a ninguém.

    "Dado o atual processo de seleção de delegados, eu votaria em Marco Rubio na Florida, John Kasich em Ohio e Ted Cruz ou qualquer um dos dois que tivesse mais chances de derrotar Trump em um determinado Estado".

    É, Mitt, mas assim os votos vão continuar divididos e não emergirá uma alternativa à hecatombe autobronzeada.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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