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    Patrícia Campos Mello

    Jornalista, profissão de risco na Turquia

    11/03/2016 19h07

    ISTAMBUL— O cientista político e colunista Mümtazer Türköne é um dos 24 jornalistas sendo processados por "insultar" o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Em outubro do ano passado, Türköne escreveu uma coluna em um jornal turco criticando a intervenção do governo em jornais da oposição. Embora não tenha citado nominalmente Erdogan no texto, o título era "o ditador deve ter enlouquecido".

    Erdogan abriu processo em janeiro. Türköne, um dos colunistas mais lidos do país, pode ficar quatro anos preso. Ele tem três amigos próximos, jornalistas, que estão presos.

    "Não estou com medo, estou com raiva", diz.

    Desde o início do mandato de Erdogan, 1.800 pessoas foram processadas por insultar o presidente.

    Não bastasse o processo, Türkone não recebeu o salário do mês passado e foi demitido. Ele trabalhava para o "Zaman", maior diário turco, com 650 mil leitores. O "Zaman" foi interditado pela polícia na sexta-feira (4) e agora é gerenciado por um conselho estatal de interventores. Todos os colunistas e jornalsitas mais críticos foram mandados embora.

    O "Zaman" é ligado ao Hizmet, movimento do líder religioso Fetullah Güllen, acusado pelo governo de tentar criar um "Estado paralelo" na Turquia usando sua influência no Judiciário e na polícia.

    O movimento de Güllen foi aliado de Erdogan até 2013, quando os veículos de imprensa ligados ao líder religioso se somaram às vozes que acusavam o então primeiro-ministro de corrupção. Desde então, pessoas e empresas ligadas ao Hizmet são acusadas de terrorismo.

    E onde estão os protestos pela democracia e liberdade de imprensa, valores tão caros aos Estados Unidos e aos europeus?

    "União Europeia vendeu a liberdade dos turcos por causa do problema dos refugiados", resume Türköne. Diante do recente acordo com a Turquia, que se compromete a receber de volta refugiados que cruzam ilegalmente para a Grécia, desde que a UE receba aqueles que esperam legalmente receber asilo, líderes europeus estão fazendo vista grossa para os abusos autoritários de Erdogan.

    Copo meio cheio: Na Turquia, uma investigação de corrupção envolvendo o então primeiro-ministro Erdogan e seu círculo íntimo desencadeou uma caça às bruxas que resultou em mais de cinco jornais e TVs fechados, jornalistas processados, demitidos e presos.

    No Brasil, uma investigação de corrupção envolvendo o centro do poder resultou no maior empreiteiro do país, políticos e empresários presos.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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