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    Patrícia Campos Mello

    EI se enfraqueceu na Síria e no Iraque, mas mantém poder de destruição

    25/03/2016 02h00

    TAL ABYAD, SÍRIA —Passei os últimos dias no norte do Iraque e na Síria, conversando com militares, pessoas comuns e políticos, no front e nas cidades. O diagnóstico é unânime: o Estado Islâmico está enfraquecido.

    Mas isso não é necessariamente uma boa notícia, como mostrou o atentado em Bruxelas, que deixou 31 mortos. O Estado Islâmico é uma facção ágil, que se adapta facilmente a novas circunstâncias, diz Barzan Iso, jornalista sírio que acompanha a situação de perto.

    O EI perdeu vários de seus campos de petróleo, que foram tomados pelas forças curdas e pelo regime de Bashar al-Assad. Muitas de suas pequenas refinarias e caminhões-tanque foram bombardeados pela coalizão. Por causa dos ataques aéreos, muita gente fugiu das cidades dominadas pelo EI —o que reduziu a arrecadação de impostos do grupo.

    O enorme estoque de armas modernas e munição de que a facção se apoderou em Mossul, quando conquistou a cidade iraquiana em junho de 2014, chegou ao fim. A ofensiva para liberar Mossul teve início nesta quinta —embora deva levar muitos meses.

    Os jihadistas perderam uma importante passagem para a fronteira turca —a cidade síria de Tal Abyad. Perderam também o controle sobre uma enorme represa síria —e a receita que tinham vendendo eletricidade.

    De acordo com uma estimativa do IHS Jane's 360, o Ei perdeu 14% de seu território em 2015, e outros 8% nos últimos 3 meses.

    Com todos esses reveses, a facção se viu obrigada a abandonar sua estratégia tradicional de ataque e passou a investir mais em ataques com homens-bomba, carros ou motos.

    O EI não pode mais se mover em grupos grandes, de 40 pessoas, porque é alvo fácil dos bombardeiros aéreos da coalizão. Além disso, perdeu poder de fogo. Então age em grupos pequenos, com armas baratas - bombas, por exemplo, são fáceis de fazer e custam e custam pouco.

    Há homens bomba do EI em Bruxelas, em Paris e em Tal Abyad, Síria, onde morreram 65 pessoas em um ataque há três semanas.

    O EI está enfraquecido, mas mantém sua habilidade de recrutamento de potenciais jihadistas —o estoque de gente pobre, oprimida e vulnerável ao extremismo é ilimitado— e seu poder de destruição.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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