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    Patrícia Campos Mello

    EUA e Temer: cautela e canja de galinha

    13/05/2016 02h00

    Pouco tempo depois de militares e empresários derrubarem o presidente venezuelano Hugo Chávez, em 2002, o governo americano se pronunciou.

    Em comunicado do Departamento de Estado, o "Itamaraty" americano, o porta-voz Philip Reeker dizia que havia um "governo de transição", que "a crise venezuelana era resultado de atos não democráticos cometidos ou encorajados pelo governo Chávez" e afirmava que Chávez havia "renunciado à presidência".

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O presidente interino, Michel Temer, chega ao palácio do Planalto para assumir o cargo
    O presidente interino, Michel Temer, chega ao palácio do Planalto para assumir o cargo

    Em 47 horas, Pedro Carmona caiu e Chávez reassumiu a presidência. E os EUA, liderados por George W. Bush, ficaram com a pecha de terem apoiado os golpistas.

    É importante ressaltar que o governo americano não encara, de forma alguma, o governo Temer como "golpista". O processo de impeachment é visto como "legítimo" e as instituições democráticas brasileiras "estão intactas".

    Não há como comparar com o golpe contra Chávez.

    Mesmo assim, a Casa Branca está sendo (acertadamente) ultracautelosa. A última coisa que Washington quer é ser acusado de se intrometer nos assuntos brasileiros —o que, inclusive, daria ampla munição para o discurso de golpe adotado pelo PT.

    Para Washington, por enquanto, há um presidente interino e uma presidente afastada —e não um novo governo. Haverá um novo governo (ou não) ao fim do julgamento de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. E então, só então, haverá um posicionamento oficial do governo americano. Obama não é Bush.

    Enquanto isso, o governo americano continuará elogiando "as instituições brasileiras" e sua capacidade de resistir a "turbulências políticas", como fez o porta-voz Josh Earnest nesta quinta, falando com o correspondente da Folha em Washington, Marcelo Ninio.

    Mas não haverá um telefonema "oficial" para legitimar o novo governo enquanto o processo de impeachment não tiver sido concluído.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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