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    Patrícia Campos Mello

    Apoio a Trump nos EUA mostra que a maioria silenciosa é incontornável

    03/11/2016 02h00

    Em um comício no Arizona no sábado, dia 29, o candidato republicano Donald Trump previu (mais uma vez) sua vitória na eleição de 8 de novembro e proclamou: a maioria silenciosa voltou.

    O termo "maioria silenciosa" foi eternizado em um discurso do presidente americano Richard Nixon em 1969. Em resposta aos jovens e aos pacifistas em geral que tomavam as ruas protestando contra a guerra do Vietnã, o republicano conclamava a "maioria silenciosa" do país a apoiá-lo em sua decisão de manter as tropas americanas na Ásia até a vitória sobre os vietcongues.

    Os EUA foram derrotados na guerra do Vietnã.

    E não se sabe se Trump, a despeito das últimas pesquisas animadoras, será eleito presidente dos Estados Unidos. Mas essa nova maioria silenciosa certamente veio para ficar.

    O eleitor de Trump, do democrata Bernie Sanders, do "brexit" e da direita xenófoba da Europa fazem parte do mesmo fenômeno: a desesperança.

    Esse eleitor sente que tem uma vida pior do que seus pais tiveram e que seus filhos terão uma existência ainda mais difícil.

    Ele tem uma desconfiança profunda em relação ao governo, que estaria privilegiando minorias como negros, hispânicos e mulheres, no caso dos EUA, ou imigrantes e muçulmanos, na Europa.

    A sensação é de que essas minorias "furam a fila", enquanto ele, o eleitor branco, de classe média ou operária, trabalha duro e é injustiçado. Para esse eleitor, o apelo do populismo de direita ou esquerda é irresistível.

    Trump promete "rasgar acordos comerciais" e "trazer de volta os empregos para os EUA". Nada disso é realista, mas não importa. No Cinturão da Ferrugem, região dos EUA que passou por uma dramática desindustrialização, o "livre comércio" é menos popular que o terrorista Osama bin Laden. Trump é o único que consegue "sentir a dor" desses trabalhadores, muitos dos quais perderam o emprego quando as empresas transferiram operação para países com custos menores.

    Os políticos tradicionais continuam acreditando nos benefícios da globalização e do livre comércio. De fato, o resultado líquido do livre comércio é um ganho para todos.

    O problema é que "os milhões de consumidores que conseguem comprar coisas mais baratas no Walmart" por causa do livre comércio são bem menos estridentes e organizados do que "os que perderam emprego porque a fábrica fechou".

    Políticos tradicionais subestimaram os danos que o livre comércio faria em segmentos da população e a capacidade desses órfãos da globalização de protestar pelo voto.

    Os milhões de votos para Trump e a vitória do "brexit" são um aviso claro: os descontentes gritam cada vez mais alto. Para eles, só os populistas entendem seus problemas.

    "Os políticos acham que seu patriotismo é de mau gosto, suas preocupações sobre a imigração são paroquiais, suas visões sobre crime são extremas e seu apego à estabilidade no emprego é inconveniente", disse a eleitores a primeira-ministra britânica, Theresa May, há algumas semanas.

    É, está na hora de ouvir a maioria silenciosa.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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