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    Patrícia Campos Mello

    Sem migrantes, PIB do mundo seria US$ 3 trilhões menor

    16/12/2016 02h00

    "Vocês estão escancarando as portas do Brasil para tudo quanto é gente, isso vai virar a casa da mãe Joana, todo tipo de escória vai entrar aqui".

    Essa foi a reação do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) à aprovação da nova Lei do Migrante, que substitui o anacrônico e discriminatório Estatuto do Estrangeiro.

    John Moore/Getty Images/AFP
     STAMFORD, CT - DECEMBER 03: Immigrants arrive to take part in an English as a Second Language (ESL), class on December 3, 2016 at an migrants assistance center in Stamford, Connecticut. The non-profit Neighbors Link Stamford offers free English language classes, employment and skills training programs and individual support services as part of its mission to help integrate recently arrived immigrants into the community. More than one third of Stamford's population is made up of immigrants, many of whom work in the service industry. John Moore/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
    Imigrantes são recebidos e têm aulas em centro de apoio em Connecticut, nos EUA

    Eu poderia tentar argumentar com o deputado invocando razões humanitárias, mas como suspeito que o nobre deputado não iria se sensibilizar muito, vou optar pelo aspecto econômico.

    Um estudo recém-publicado pelo McKinsey Global Institute, instituto de pesquisas ligado à McKinsey (mas independente dos clientes da consultoria), mostra que os migrantes do mundo são responsáveis por 9,4% do PIB global (US$ 6,7 trilhões Segundo o relatório People on the move: Global migration's impact and opportunity (Pessoas em movimento: impactos e oportunidades da migração global). Se essas 247 milhões de pessoas tivessem ficado em seus países, o PIB mundial seria US$ 3 trilhões menor.

    Trabalhadores que migram para países onde a produtividade é mais alta aumentam o PIB mundial. E, segundo o estudo, tanto os trabalhadores qualificados como aqueles de menor nível de escolaridade contribuem economicamente, tanto por meio de inovação e empreendedorismo como pela liberação de mão de obra local para trabalhos que geram maior valor agregado.

    Outro fator bem conhecido é o envelhecimento da população em países desenvolvidos –os imigrantes conseguem remediar um pouco esse problema. Entre 2000 e 2014, os imigrantes representaram entre 40% e 80% do crescimento da mão-de-obra nos países destino.

    Além disso, a maioria dos estudos, segundo o MGI, mostra que os imigrantes, também no longo prazo, fazem uma contribuição líquida positiva para as contas públicas dos países e aliviam o déficit da previdência.

    Vale notar que, destes 247 milhões, cerca de 90% migraram por razões econômicas –o restante deixou seu país por causa de conflitos ou perseguições (são refugiados).

    Agora, isso tudo é resultado de longo prazo (e no longo prazo, como disse Keynes, todos estaremos mortos).

    No curto prazo, as comunidades precisam de um tempo para lidar com o impacto da chegada de migrantes. Quando há um grande fluxo de imigrantes em uma região relativamente pequena, se esses migrantes podem substituir facilmente os trabalhadores nativos em suas funções e se a região destino passa por uma desaceleração econômica, há efeitos negativos sobre salários e nível de emprego dos habitantes locais, no curto prazo.

    A eleição de Donald Trump nos EUA e a vitória do "brexit" no Reino Unido são alguns dos sintomas desses efeitos de curto prazo.

    Mas ainda que esses setores afetados no curto prazo sejam bastante estridentes, apelar para medidas xenófobas e fechar as fronteiras não é a solução. Integrar melhor esses migrantes –abordando não apenas os efeitos deles sobre os empregos, mas dando acesso a saúde, educação, habitação e envolvimento com a comunidade - é a saída.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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