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    Patrícia Campos Mello

    Não, Trump, George Washington não era igual a Robert E. Lee

    18/08/2017 02h28

    Julia Rendlema/Associated Press
    Estátua do general Robert E. Lee de Charlottesville, palco dos atos da extrema-direita no fim de semana
    Estátua do general Robert E. Lee de Charlottesville, palco dos atos da extrema-direita no fim de semana

    "É triste ver a história e a cultura do nosso grande país ser destruída com a retirada das nossas lindas estátuas e monumentos; não se pode mudar a história, mas é possível aprender com ela. Robert E. Lee, Stonewall Jackson que será o próximo, Washington, Jefferson? Isso é ridículo."

    Assim tuitou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, referindo-se às notícias de que várias estátuas homenageando os confederados foram derrubadas ou removidas no país.

    Senhor presidente Trump, George Washington e Thomas Jefferson não têm nada a ver com Robert E. Lee. Até eu, que não nasci nos Estados Unidos, apenas morei e estudei aí muitos anos, sei disso.

    Robert E. Lee não foi um herói. Ele era general de uma guerra que matou 600 mil pessoas, um conflito que começou porque Lee e outros se negavam a libertar os escravos nos Estados Unidos.

    Ele liderou tropas de Estados que se separaram dos Estados Unidos, e um dos principais motivos da secessão era impedir a abolição da escravatura, digam o que quiserem os revisionistas históricos.

    George Washington, primeiro presidente dos EUA, e Thomas Jefferson, terceiro, também foram proprietários de escravos e merecem críticas por isso.

    Mas será que a retirada de estátuas de confederados significa que o país está entrando em uma "ladeira escorregadia", em que uma ação levará inevitavelmente a uma série de consequências indesejadas?

    Não. A grande diferença é que Washington e Jefferson são homenageados APESAR de terem sido proprietários de escravos, ele são honrados pelos muitos outros feitos de suas trajetórias.

    Já generais como Lee e Stonewall Jackson são celebrados por seus serviços aos Estados confederados, criados para que latifundiários pudessem continuar a explorar os negros.

    Os líderes confederados não seriam lembrados hoje não fosse pelo que fizeram pela Confederação e pela manutenção da escravidão.

    Derrubar as estátuas não é uma tentativa de apagar o passado. Lembrar-se da história do país é bem diferente de homenagear gente que entrou em guerra para manter a escravidão. Existem outras formas de aprender com o passado.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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