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    Patrícia Campos Mello

    Como uma trapalhada poderia levar à Terceira Guerra Mundial

    01/09/2017 02h00

    KCNA via Reuters
    O ditador Kim Jong-un acompanha o lançamento de míssil norte-coreano que sobrevoou o norte do Japão
    O ditador Kim Jong-un acompanha lançamento de míssil norte-coreano que sobrevoou o norte do Japão

    Imagine você ser acordado de madrugada com sirenes e a seguinte mensagem de texto no seu celular : "Alerta de míssil! Alerta de míssil! Você deve se abrigar em uma construção sólida ou subterrânea."

    Foi assim que os japoneses da ilha de Hokkaido e mais algumas localidades no país foram despertados na madrugada de terça-feira (29), enquanto um míssil lançado pela Coreia do Norte passava sobre suas cabeças para depois, felizmente, cair no mar.

    Grande parte das guerras começam por acidente ou descuido, e não intencionalmente. O líder norte-coreano, Kim Jong-un, quis fazer uma demonstração de força ao lançar o míssil sobre o Japão, indicando que poderia facilmente bombardear Guam.

    Mas vamos imaginar, só por um instante, que os militares da Coreia do Norte tivessem errado os cálculos ou o míssil não cumprisse a trajetória esperada por algum motivo ou o Japão não o interceptasse. O míssil cairia em território japonês.

    Estaríamos agora em plena Terceira Guerra Mundial.

    Em 1960, no âmbito da Guerra Fria, o Japão e os Estados Unidos assinaram um tratado de cooperação e segurança. O tratado estabelece que os EUA são obrigados a proteger o Japão em caso de ataque e permitiu a instalação de várias bases militares americanas em território japonês.

    Além disso, o Japão é um país parceiro da OTAN, e os países membros da aliança poderiam, eventualmente, invocar o famoso artigo 5 –um ataque contra um aliado é um ataque contra todos.

    Aí então os EUA entrariam em ação, provavelmente bombardeando bases militares na Coreia do Norte. Kim Jong-un poderia reagir lançando mísseis -convencionais ou nucleares- contra a Coreia do Sul. A Coreia do Norte tem centenas de mísseis estacionados na fronteira com seu vizinho do sul, que poderiam acertar Seul, por exemplo, uma cidade de 10 milhões de pessoas.

    E a China? A China também tem um acordo que a obriga a proteger a Coreia do Norte, embora haja dúvidas de como o governo chinês iria interpretá-lo. De qualquer maneira, a China não quer uma Coreia unificada, cheia de bases americanas e com 30 mil soldados dos Estados Unidos na sua fronteira, por isso continua apoiando o líder norte-coreano, embora com menos entusiasmo.

    Se a China resolvesse proteger o aliado contra ataques americanos, o que ocorreria?

    É melhor nem imaginar.

    Editoria de Arte/Folhapress
    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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