• Colunistas

    Tuesday, 21-May-2024 05:53:17 -03
    Patrícia Campos Mello

    Secessões que saíram pela culatra

    20/10/2017 02h00

    O mundo assiste a duas tentativas de secessão que saíram pela culatra. No Curdistão iraquiano, onde um plebiscito pela independência foi realizado em 25 de setembro, as tropas iraquianas retomaram vários territórios que estavam sob poder dos curdos desde 2014.

    Na Catalunha, que votou pela independência no dia 1 de outubro, o governo do primeiro ministro espanhol Mariano Rajoy ameaça invocar o artigo 155 da Constituição para cassar a autonomia da região, com medidas que podem ir desde detenção de legisladores até convocação antecipada de eleições.

    Nos dois casos, em última instância, o objetivo era se "cacifar" para obter mais benefícios e autonomia do governo central. Foram apresentados a Madri e Bagdá fatos consumados, com a ideia de extrair concessões a partir daí.

    O Governo Regional do Curdistão (GRC) queria consolidar ganhos territoriais sobre áreas produtoras de petróleo. Divididos, os curdos não se entenderam e houve recuo sem resistência em Kirkuk. Terminaram sem independência, e com muito menos território - perderam inclusive poços de petróleos que eram essenciais para financiar suas ambições de independência.

    No caso da Catalunha, afora a debandada de empresas que temem a instabilidade, agora os catalães se preparam para perder autonomia, em vez de ganhar independência.

    Tanto na Espanha quanto no Iraque, as potências ocidentais se colocaram completamente do lado do status quo. Os curdos se sentiram traídos - ajudamos os EUA a derrotar o Estado Islâmico, e agora eles nos rifaram, é a queixa.

    Catalães também esperavam solidariedade da União Europeia, mas receberam repúdio - a UE não aceita nem sequer agir como mediadora da disputa. A última coisa que os europeus querem é encorajar corsos, lombardos, escoceses, cada um de seus próprios movimentos separatistas

    "Não está na nossa agenda", disse o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. "Todos nós temos nossas próprias emoções, opiniões, e avaliações, mas, de forma oficial, não há espaço para intervenção da UE."

    Já basta lidar com um líder americano errático e um processo turbulento de saída do Reino Unido do bloco europeu.

    Quanto ao Iraque, o presidente Donald Trump afirmou: "Não vamos ficar do lado de ninguém" e o Departamento de Estado segue rejeitando a legitimidade do plebiscito.

    Definitivamente não é uma boa época para fazer marola.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024