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    Patrícia Campos Mello

    Guerra no Iêmen leva Irã, Arábia Saudita e EUA para beira do precipício

    15/12/2017 02h10

    O risco de um confronto entre os Estados Unidos e o Irã atingiu o "nível crítico", segundo o centro de resolução de conflitos International Crisis Group (ICG).

    O ICG desenvolveu uma ferramenta chamada "Lista de gatilhos Irã-Estados Unidos", que monitora e tenta medir a probabilidade de choques entre os dois países e seus aliados. No momento, o Iêmen é o maior fator de risco para um choque entre EUA e Irã, atingindo nível crítico (a escala vai do risco mais alto, crítico, e passa por severo, substancial, moderado e baixo).

    O relatório do ICG, divulgado na quinta-feira (14), aponta que a escalada no conflito no Iêmen - rebeldes houthis apoiados pelo Irã lutam contra o governo do presidente Abed Rabbo Mansour Hadi, com apoio da Arábia Saudita, que, por sua vez, é aliada dos Estados Unidos - tem grande probabilidade de evoluir para um confronto intencional ou acidental, direto ou indireto entre os iranianos e os americanos.

    O Iêmen vive uma guerra civil desde 2015, com mais de 10 mil mortos. As tensões entre Irã e Arábia Saudita se exacerbaram no dia 4 novembro deste ano, quando houthis no Iêmen lançaram um míssil balístico de longo alcance contra a capital saudita, Riadh. Foi o ataque que chegou mais perto de atingir um grande centro urbano no país.

    A Arábia Saudita afirmou que o Irã havia fornecido o míssil para os rebeldes e classificou o ataque como "ato de guerra". O ataque também mostrou que outros países do Golfo, aliados dos sauditas, estão no alcance de possíveis mísseis lançados pelos houthis.

    Nesta quinta-feira, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, convocou uma entrevista coletiva e mostrou o que chamou de "provas irrefutáveis" de que o Irã forneceu aos houthis o míssil lançado contra Riadh, além de outros armamentos.

    "É difícil achar algum conflito ou facção terrorista no Oriente Médio que não tenha as impressões digitais do Irã", disse Haley, ao mostrar restos chamuscados de um míssil, que seria aquele disparado contra o aeroporto em Riadh, além de um drone e armamentos anti-tanques recuperados no Iêmen pela Arábia Saudita.

    A embaixadora acusou o Irã de desrespeitar resoluções da ONU que proíbem o fornecimento de armas para os rebeldes no Iêmen.

    "Vocês verão que nós vamos construir uma coalizão para contra atacar o Irã", disse.

    A missão do Irã na ONU afirmou que as acusações dos EUA eram "irresponsáveis, provocadoras, destrutivas e fabricadas".

    Haley acusa o Irã de fornecer armas também para Síria e Líbano.

    Ela exortou o Conselho de Segurança da ONU a impor sanções contra o Irã, apontando que o país, caso comprovado o auxílio aos houthis, teria violado resoluções do órgão.

    Mas a Rússia e a China, membros permanentes do CS e, portanto, com poder de veto, dificilmente aprovariam essas sanções contra o Irã.

    A acusação de Haley abre caminho para um possível ataque dos EUA a alvos houthis dentro do Iêmen - o que poderia gerar um aumento do apoio dos iranianos aos rebeldes ou retaliações de milícias xiitas contra forças americanas na Síria ou Iraque.

    Segundo o ICG, não está clara a magnitude do apoio do Irã aos houthis e se Teerã tem poder de controlá-los, uma vez que os rebeldes já ignoraram sugestões iranianas no passado. "Isso significa que o Irã pode pagar um preço por ações de um grupo aliado que não controla", diz o relatório do grupo.

    Além da crise do Iêmen, há vários outros focos de atrito entre o Irã e os EUA e seus aliados. Em outubro, o presidente Donald Trump recusou-se a certificar que o Irã vinha cumprindo os requisitos do acordo nuclear assinado em 2015. Segundo ele, o acordo é falho, porque suas exigências começam a vencer a partir de 2020 e o tratado não aborda questões como a influência do Irã da região e o programa de mísseis do país. Mas em vez de imediatamente rasgar o acordo e impor sanções, ele incumbiu o Congresso de achar alguma solução, seja por meio de imposição de novas sanções ou de medidas que prevejam um gatilho para imposição de penalidades.

    As tensões entre milícias apoiadas pelo Irã na Síria e Iraque e forças americanas também crescem, na medida em que o inimigo comum, o Estado Islâmico, vai saindo da jogada.

    Os iranianos acham que a Arábia Saudita, os Emirados Árabes e Israel estão em conluio para acirrar os conflitos da região e empurrar EUA e Irã para um confronto

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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