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    Paula Cesarino Costa - Ombudsman

    A novidade que vem das escolas desafia os jornais

    30/10/2016 02h00

    Em junho de 2013, uma onda de manifestações ocupou as ruas do Brasil, numa dimensão crescente por ninguém imaginada. No final de 2015, o movimento secundarista chegou ao noticiário quando diversas escolas de São Paulo foram ocupadas em protesto contra a proposta de reorganização escolar do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A mobilização resultou na suspensão do projeto, que fecharia escolas.

    Em abril de 2016, alunos de escolas técnicas paulistas ocuparam prédios públicos em protesto contra a qualidade da merenda escolar.

    Desde o início de outubro, estudantes de várias partes do Brasil, mais vistosamente no Paraná, detonaram novo movimento de ocupação de escolas. Protestam contra a medida provisória da reformulação do ensino médio e o projeto de emenda constitucional que cria teto para gastos públicos e pode reduzir investimentos em educação. Reclamam da falta de discussão com quem interessa, os estudantes.

    Lydia Megumi/Folhapress
    Ilustração coluna ombudsman

    A Folha noticiou de forma tímida a movimentação. Para dar ideia da extensão, na sexta, segundo entidades estudantis, havia 123 universidades e 1.197 escolas ocupadas no país; cerca de 850 no Paraná.

    O leitor Adjalma Rodrigues da Silva cobrou manchete: "Ninguém entrevista os estudantes, mostra o que está acontecendo? Onde fica o nosso direito à informação?".

    O editor do núcleo de Cidades, Eduardo Scolese, defendeu as opções editoriais. "O jornal acompanha desde o início, registrou o avanço das ocupações e passou a dar mais destaque nesta semana, com a morte do estudante e o recrudescimento da tensão entre os alunos e aqueles contrários às ocupações. O tema é relevante e merece nossa total atenção", afirmou.

    A meu ver, a cobertura até aqui foi protocolar, apesar de reportagem de mais fôlego no sábado.

    O leitor da Folha não teve ainda oportunidade de conhecer em profundidade os protagonistas do movimento e seus antagonistas. As ocupações são, para grande parte deles, a primeira experiência política.

    O que se espera da Folha é que consiga interpretar o movimento, dando voz aos jovens e fomentando debate com os mais velhos.

    Como se não bastassem o fato em si e suas implicações, surgiu uma personagem que reúne ideias concatenadas, articulação linguística e atitude altiva. Quem viu os dez minutos e 39 segundos da fala de Ana Júlia Pires Ribeiro, 16 anos, na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná, percebeu que ela tem o que dizer e merece ser ouvida.

    Na quarta, 16, nenhum grande jornal noticiou a inusual presença de estudantes na tribuna. Na quinta, às 12h53, o site da revista econômica americana "Forbes" captou a importância da fala da jovem. Só às 19h a Folha colocou no ar perfil de Ana Júlia, recuperando o discurso.

    "De quem é a escola? A quem ela pertence?", questionou a estudante. Com a humildade de dizer que os jovens ainda têm dificuldade de formar um pensamento, colocou a imprensa na dança, exaltando seu papel na formação do senso crítico.

    "Nós temos de ler tudo o que a mídia nos passa, fazer um processo de compreensão, de seleção, para daí conseguir ver a que a gente vai ser a favor e o que a gente vai ser contra. E é um processo difícil."

    O jornal tem de oferecer mais informação analítica e consistente a uma geração bombardeada por informações de todos os lados.

    Disse Ana Júlia: "Uma semana de ocupação nos trouxe mais conhecimento sobre política e cidadania do que muitos outros anos que vamos ter em sala de aula".

    Não cabe aqui ser contra ou a favor seus pontos de vista, mas é emocionante vê-la defendendo-os com tanta clareza, equilíbrio e paixão.

    Talvez tenha sido o melhor discurso político da história recente. Tem notícia nele. E felicidade.

    *

    Os números da Folha

    A direção da Folha enviou dados consolidados da Empresa Folha da Manhã, que edita o jornal, em 2015, quando registrou receita líquida de R$ 707,9 milhões e lucro líquido de R$ 9,4 milhões.

    Resultado citado na coluna do último domingo (23) não considerava as unidades de negócio -Datafolha, Publifolha, Livraria da Folha e Transfolha-, que estão sob mesma direção e estrutura contábil/financeira e operacional.

    paula cesarino costa

    Está na Folha desde 1987. Foi Secretária de Redação e editora de Política, Negócios e Especiais. Chefiou a Sucursal do Rio até janeiro de 2016. Escreve aos domingos.

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