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    Paula Cesarino Costa - Ombudsman

    Como encarar uma avalanche de notícias?

    16/07/2017 02h00

    Não faltou notícia importante na semana que passou. A reforma trabalhista foi aprovada. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado a nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara rejeitou a denúncia contra o presidente Michel Temer acusado de corrupção passiva. A nova procuradora-geral da República foi nomeada.

    Notícias tão impactantes em sequência dominaram as edições digitais dos jornais todos os dias e lançaram o desafio de criatividade nas edições impressas com especial interesse e relevância. Ao longo da semana, um quê de redundância entre as versões digitais e impressas foi percebido por leitores das diversas plataformas, sinalizando que o desafio não foi superado.

    Na quarta, 12, por exemplo, todos os jornais reservaram suas manchetes para a reforma trabalhista. O enunciado da Folha foi seco, sem qualquer tentativa de interpretação ou desdobramento: "Senado aprova reforma trabalhista".

    O texto da capa afirmava que reforma trabalhista é "defendida por empresários e contestada por partidos de esquerda e sindicatos dos trabalhadores". As páginas internas faziam referência apenas a sindicatos. Faltou informar a opinião dos principais interessados e afetados. E havia ferramenta para tal.

    Pesquisa Datafolha mostrara que a maioria dos brasileiros rejeitava a reforma trabalhista. A maior parte dizia acreditar que a reforma beneficia mais empresários do que trabalhadores. Quadro publicado na edição confirmava essa percepção ao apontar em 15 pontos da reforma duas possíveis desvantagens para empresários e 13 possíveis desvantagens para trabalhadores.

    O ponto a que pretendo chegar é que a cobertura de decisões do Executivo, do Legislativo e do Judiciário parece sempre empacotada nos gabinetes dos respectivos Poderes.

    A vida dos interessados diretos é em geral subestimada. Foram poucas as reportagens com casos concretos sobre as mudanças que a reforma provocará, tanto para trabalhadores quanto para empresas.

    No registro da condenação de Lula, a cobertura da Folha foi mais contida do que a dos concorrentes, abdicando do tom histórico que o momento exigia. O jornal manteve sua preocupação com o outro lado, ofereceu análises variadas, mas não teve reportagem ou edição que se destacasse.

    Em meio a tanta notícia, faltou o que surpreendesse e mostrasse a Folha como imprescindível.

    Entre a inovação e a desfiguração

    A Folha já circulou perfumada, pintada de azul, com capa em inglês, com anúncios que percorrem páginas. Não é de hoje que a criatividade dos publicitários, de um lado, e a busca por anúncios do departamento comercial, de outro, interferem no formato da Folha (e de outros jornais). Com frequência, as iniciativas desagradam aos leitores.

    Nesta semana, o primeiro caderno do jornal circulou alguns centímetros mais largo para abrigar anúncio da Gol. Leitores reclamaram de dificuldade no manuseio.

    O diretor-executivo comercial do Grupo Folha, Marcelo Benez, explicou que "a ação publicitária inédita proporcionou ao leitor um volume de conteúdo editorial maior e mais extenso do que em edições tradicionais, quando é normal que anúncios e matérias convivam". A Gol foi anunciante exclusivo do primeiro caderno. Ao criar coluna extra para a publicidade, as páginas ficaram livres para o noticiário.

    Em maio, ação comercial da Samsung fez intervenções sobre fotos. Um leitor disse ter se sentido "enganado". Outro questionou se as reportagens eram "patrocinadas". A dúvida é alerta do risco que o jornal não pode correr, o de ultrapassar o limite entre comercial e editorial.

    Para o editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, é "compreensível" o estranhamento. "Consideramos, no entanto, que tais iniciativas mostram a vitalidade da edição impressa do jornal. Como diz o Projeto Editorial, acreditamos que uma publicidade livre e diversificada é essencial para manter a independência do jornalismo aqui praticado."

    O jornal inovar também em publicidade é revigorante para o meio, é claro. Ao mexer nas próprias características, entretanto, corre o risco de perder identificação com o leitor.

    Folhapress
    DESCONFORTO E DESORGANIZAÇÃO (10.jul.2017 e 13.jul.2017) 1. Mensagem publicitária da Gol aumentou a largura das páginas do jornal; 2. o do Bradesco, de aspecto mais frequente, tirou coluna de seu lugar habitual 3. CAPA FALSA (29.mar.2017) Muito parecida com o jornal, teve aviso discreto de que era anúncio 4. INTERVENÇÃO (15.mai.2017) Ação da Samsung em fotos de esporte exigiu texto explicativo
    DESCONFORTO E DESORGANIZAÇÃO (10.jul.2017 e 13.jul.2017) 1. Mensagem publicitária da Gol aumentou a largura das páginas do jornal; 2. o do Bradesco, de aspecto mais frequente, tirou coluna de seu lugar habitual 3. CAPA FALSA (29.mar.2017) Muito parecida com o jornal, teve aviso discreto de que era anúncio 4. INTERVENÇÃO (15.mai.2017) Ação da Samsung em fotos de esporte exigiu texto explicativo
    paula cesarino costa

    Está na Folha desde 1987. Foi Secretária de Redação e editora de Política, Negócios e Especiais. Chefiou a Sucursal do Rio até janeiro de 2016. Escreve aos domingos.

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