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    Paula Cesarino Costa - Ombudsman

    Resoluções de pleito novo

    24/12/2017 02h00

    Carvall/Folhapress
    Ilustração - Ombudsman - 12.11.2017

    A imprevisibilidade e a imensa expectativa sobre o que está por vir aproximam as eleições de 2018 e as de 1989, as primeiras presidenciais após o período de ditadura militar.

    Há, entretanto, mais diferenças do que semelhanças. A disputa do ano que vem terá características novas. Os candidatos estarão proibidos de receber doações privadas e um fundo público bancará os gastos eleitorais. A internet e as redes sociais terão papel preponderante nas discussões, reações e implementação da agenda pública.

    Em colunas anteriores, abordei a preocupação dos eleitores com o equilíbrio editorial na cobertura dos pré-candidatos, exigência que só se ampliará nos próximos meses. Tratei do desafio de enfrentar robôs e estruturas especializadas em influenciar o eleitor na internet e da necessidade de investigação profunda de tais procedimentos. Apontei para o perigo da falsa equivalência, de tratar como iguais fatos com relevância e impactos diferentes.

    No espírito da época, de desejar bons votos e de rever prioridades do ano que se aproxima, eu me arrisco a sugerir alguns pontos para reflexão dos jornalistas em relação à cobertura eleitoral que se aproxima:

    1) ao contrário do que o senso comum pode imaginar, os protagonistas das eleições não são os políticos candidatos, mas, sim, os eleitores. É fundamental ter mecanismos (pesquisas, painéis, canais eletrônicos) para medir e recolher os pontos de preocupação e os desejos de sua excelência, o eleitor. É preciso engajá-lo nos temas relevantes e pressionar os candidatos para que digam a que vêm;

    2) com o país ainda sob o efeito da Lava Jato, a ficha corrida dos candidatos é um dos aspectos que mais interessam a (e)leitores;

    3) os jornalistas precisam se inteirar da nova lei eleitoral, cotejar seus feitos, estabelecer contrastes e apontar desvios. Crimes eleitorais -da campanha ilegal à compra de votos- são frequentes e muitos passam impunes. O jornal deve manter olhar rigoroso em relação a eles;

    4) a velha máxima política de seguir o dinheiro será essencial. Como os candidatos têm um fundo público que os financia, qualquer recurso de outra origem será ilegal. Quem custeará transportes e viagens? De que forma? Estruturas de marketing estão à altura do custo informado? Militantes estão sendo pagos? Instituições públicas estarão desvirtuando recursos de sua estrutura e influenciando o pleito?

    Todas essas questões exigem preparação da Redação para que se mantenha no foco correto;

    5) a verificação de fatos, declarações e promessas não pode ficar restrita a grupos, agências ou empresas especializadas. Deve nortear toda a cobertura de repórteres e editores. Está na essência do jornalismo moderno;

    6) As pesquisas de opinião pública são um elemento básico da cobertura da campanha e tradicionais na história da Folha. Sua leitura exige técnica e qualificação.

    A exploração de dados setoriais e a análise precisa podem antecipar tendências. No entanto, é preciso lembrar que são leituras do momento, sujeitas a mudanças e não devem engessar a cobertura, limitando-a a um ou dois candidatos;

    7) a mídia tem papel crucial no processo eleitoral de um país. Equilíbrio, imparcialidade e objetividade podem ser colocados em risco por decisões prosaicas de repórteres e editores. Os alertas sobre esses riscos devem ser dobrados.

    Nesse sentido, os leitores estão o tempo todo de olho na Folha. Cada qual com sua convicção analisa o jornal de uma maneira: "Fico enojado e indignado todo dia ao ler a Folha e ver como ela apoia descaradamente o já condenado Lula. Todo dia dando notícias favoráveis desse corrupto", escreveu Francisco Carlos Henriques.

    "A manchete deste domingo (10) -Alckmin assume PSDB e elogia agenda de Temer- representa a passagem do jornal da simpatia militante para o apoio explícito à candidatura do PSDB à Presidência", afirmou João de Deus Souza Silva.

    Maria de Lourdes Pereira reclamou: "Parece que a Folha está mesmo confirmando sua vocação de folha... de bananeira, aquela que ora está para um lado, ora está para o outro. Deveria assumir um lado".

    A leitora Dagmar Zibas resume:"Você terá muito trabalho para tentar o equilíbrio da cobertura".

    Deixando de lado as paixões, um trabalho planejado, equilibrado e inteligente e criativo terá o reconhecimento dos (e)leitores. Eles devem ter informações precisas e suficientes sobre candidatos, partidos políticos e o processo eleitoral para fazer escolhas responsáveis na urna.

    É assim que os jornais, como eficiente ferramenta dos eleitores na construção do país que sairá nas urnas, poderão dizer-se novamente essenciais na vida dos seus leitores.

    *

    É a última coluna do ano. Agradeço a você, leitor, pela companhia e pela parceria. Saio em férias após as festas. Um ótimo ano a todos.

    paula cesarino costa

    Está na Folha desde 1987. Foi Secretária de Redação e editora de Política, Negócios e Especiais. Chefiou a Sucursal do Rio até janeiro de 2016. Escreve aos domingos.

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