RIO DE JANEIRO - Desde que as manifestações tomaram as ruas do país, muitas perguntas ficaram sem resposta. Quem são os manifestantes? Quais tipos de pessoas e motivações se misturam nesses protestos?
Houve os que protestavam fantasiados, em clima de Carnaval; outros rabiscavam cartazes bem-humorados; havia os que pleiteavam educação de qualidade, moradores de favela que gritavam contra a violência policial e por justiça social; alguns arriscaram ir com bandeiras de partidos, um grupo de preto com rosto coberto se colocou na linha de frente.
Ao se ampliarem os gritos de "Fora Cabral", o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) acusou PR e PSOL de darem "viés político" às manifestações no Rio. Sem provas.
Ontem, o advogado dos jovens presos por acender o rojão que matou o cinegrafista disse que os dois foram aliciados e recebiam dinheiro de ativistas. Sem dizer de quem.
O governador Sérgio Cabral voltou a dizer ontem que "há partidos políticos e organizações embutidos nessas ações". Sua polícia ainda não concluiu nada que indique isso.
Em menos de uma semana, Caio Silva de Souza, 23, e Fabio Raposo Barbosa, 22, foram presos. A rapidez da polícia é elogiável, mas surpreendente. Caio é morador de Nilópolis, na Baixada Fluminense, e trabalhava em hospital público na zona oeste. Fabio morava no Méier, bairro de classe média da zona norte, e dizia-se tatuador. Não parecem "filhinhos de papai mimados", como chamou o prefeito Eduardo Paes. Tampouco "ativistas profissionais".
As autoridades continuam perdidas e escorregando no discurso. Quase oito meses após o início dos protestos poucos dos que destruíram prédios públicos ou saquearam lojas foram reconhecidos, processados ou punidos. Faltam método de investigação e busca de diálogo para maior compreensão. Sobram os oportunistas eleitorais e pregoeiros do caos.
Paulistana, é repórter especial da Folha. Desempenhou várias funções desde que entrou no jornal, em 1987. Escreve às quintas.