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    Paula Cesarino Costa

    Vias elevadas

    25/09/2014 02h00

    RIO DE JANEIRO - Há mais diferenças do que semelhanças entre o Minhocão paulistano e a carioca Perimetral. Símbolos da modernidade urbana no século 20 e da nascente indústria automobilística, as duas longilíneas vias elevadas que cortam as principais metrópoles brasileiras vivem seu ocaso. São polêmicas e odiadas por coroarem a supremacia do automóvel.

    Com a construção iniciada nos anos 1950, o elevado da Perimetral, no Rio, pôs abaixo o Mercado Central, escondeu a história do Brasil e ajudou a sucatear e a esvaziar toda a região portuária. Margeado pelas águas da baía de Guanabara e por belos casarões e galpões históricos, bloqueou a visão do mar. A demolição de cerca de cinco quilômetros descortinou parte da cidade, a ser redescoberta e reocupada.

    Inaugurado em 1971, com 2,8 km de extensão, o elevado Costa e Silva, em São Paulo, instalou-se sobre uma bela avenida, espremido entre duas fileiras de prédios. Em alguns trechos, passa a apenas cinco metros de distância das janelas. Acima e abaixo tornou impraticável e insalubre a vida de milhares de famílias.

    O efeito da derrubada da via paulistana é menos evidente. Transformará a vida desses moradores, é óbvio. Mas sua transmutação em parque poderá fazer renascer toda uma região da cidade de concreto, carente de espaços públicos e de lazer.

    Surpreende que a maioria (53%) dos paulistanos defenda que o Minhocão fique como está. Sua desativação para o uso de carros já foi determinada pelo Plano Diretor de São Paulo, em vigor desde 31 de julho. Como está não ficará. Só 7% apoiam sua demolição, enquanto 23% o querem transformado em parque.

    A oportunidade é única. Pode servir como laboratório de como transformar uma cidade. Precisa ser discutida entre poder público e sociedade para evitar que uma boa ideia seja atropelada na contramão da história.

    paula cesarino costa

    Paulistana, é repórter especial da Folha. Desempenhou várias funções desde que entrou no jornal, em 1987. Escreve às quintas.

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