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    Paula Cesarino Costa

    Mais por favor

    25/12/2014 02h00

    RIO DE JANEIRO - No cartaz colado em frente ao balcão de uma loja no Rio está escrito: "Se pedir por favor, ganha desconto". É a crua constatação de uma mudança nos costumes cada vez mais perceptível.

    Questionados aleatoriamente, balconistas respondem de pronto: "É, pouca gente pede por favor".

    Surgida como forma de atenuar ordens, realizar desejos, evitar confrontos ou disfarçar a prepotência, a expressão por favor tem equivalentes em quase todas as línguas.

    O brasileiro evita o imperativo e abusa do condicional. Às vezes substitui com a ginga de corpo, o tom de voz e o sorriso a expressão considerada natural e desejável a qualquer pessoa educada. O por favor corre risco de virar expressão morta.

    Sinal de tempos em que o "bom dia" no elevador ou o "obrigado" surpreendem. O por favor é mais que mesura. É gesto de respeito e aproximação. Faz bem a quem destina e a quem é destinado.

    Pequenos detalhes assim suavizam o cotidiano de multidões que se digladiam no trânsito, em ônibus e trens, correm atrás do tempo.

    A parcimônia do por favor significa que estamos nos tornando homens e mulheres mal-educados, brutos e pouco afeitos a laços comunitários? Não necessariamente. Mas indica que a forma de se comunicar está em transformação. O tempo muda a língua. Algumas palavras desaparecem, e outras surgem.

    Pode ser que a expressão venha a se restringir a diálogos escritos e desapareça da cultura oral, como ocorreu com o finado "por obséquio".

    Numa época em que os olhos estão voltados para celulares e não para o mundo, em que as pessoas cada vez mais se relacionam de forma virtual, pequenas gentilezas abrem caminho para que sejamos pessoas mais afáveis. Ainda é tempo de por favor.

    Aproveite o clima de Natal. Mais por favor, por favor. É uma outra forma de dizer "mais amor, por favor".

    paula cesarino costa

    Paulistana, é repórter especial da Folha. Desempenhou várias funções desde que entrou no jornal, em 1987. Escreve às quintas.

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