RIO DE JANEIRO - Não é só a economia. Não é só a política. Nem só a exacerbação da luta (ou o preconceito) de classes ou do ódio do "nós contra eles" e de quem "trabalha" contra quem "se pendura" no dinheiro do Estado. É tudo junto e misturado. A crise por que passa o país não dá sinais de arrefecimento nem de solução a curto prazo.
A avaliação negativa da presidente Dilma Rousseff e do Congresso Nacional atingiu níveis recordes. Os 62% que avaliam a gestão petista como ruim ou péssima são comparáveis à avaliação de Sarney, entre 1988 e 1990, e Collor em 1992, pouco antes do processo de impeachment.
A reprovação do Congresso por metade (50%) da população está próxima da recebida no longínquo ano de 1993 (56%), época do escândalo dos "anões do Orçamento", acusados de esquemas de propina que desviaram em torno de R$ 100 milhões. O valor é "gorjeta" se comparado aos atuais bilhões em jogo.
Faz sentido o combate à corrupção ter sido o fator motivador para 45% dos que foram à avenida Paulista no último domingo. A sensação de que a corrupção se institucionalizou no país se espraia. As revelações diárias de valores desviados, propinas cobradas e contratos superfaturados alimentam o horror público.
Aos poucos, provas se juntam para demonstrar de modo irrefutável que obras públicas, propinas e financiamento de projeto político estão de mãos (sujas) dadas.
Como afirmou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima à colunista Mônica Bergamo, "é uma engrenagem para financiar a política no Brasil. Não é restrita à Petrobras nem ao nível federal".
O desvendamento do atual esquema, que não se sabe até onde vai chegar, não pode acabar em si só. Precisa mudar costumes privados e práticas públicas. Parece um monstro grande demais a ser enfrentado por líderes políticos tão pequenos.
Paulistana, é repórter especial da Folha. Desempenhou várias funções desde que entrou no jornal, em 1987. Escreve às quintas.