Hoje estou de folga. Ou seja, é momento de colocar a geladeira em dia –afinal, há tempos eu só como na rua, pois em casa só tem chocolate e água. Por favor, não me perguntem como cheguei a essa situação, isso significaria contar a minha vida inteira para vocês, o que não vai rolar.

Eu juro que não faz muitos dias –ok, dias não, semanas inteiras– que essa geladeira estava um exemplo de organização e fartura. Mas isso é raro, já que cozinha bem administrada é para profissionais. Quem não estuda e se especializa come torrada com fungo. Eu já comi e não morri. É sério, no escuro nem dá para ver o musgo.

Sei que hoje é um dia perfeito para ficar no sofá e "matar" aquela série que estou tentando acompanhar, mas a geladeira grita. E esse grito, na verdade, é o meu. Hoje vou cozinhar e tenho que ir às compras. Preciso me aventurar por ruas que são um perigo nestes dias de pensamentos alados na liberdade, explosões coloridas de ideias para terremotos e amores revolucionários.

As pessoas podem tolher suas vontades com uma simples olhada. Elas tentam roubar um sentimento, alugar seu tempo por dois segundos... e aí já era! Não deixe. Vontade de dizer verdades nas caras. Mas passe batido por esses pensamentos. Entre logo no supermercado e tente se concentrar.
Preparar uma comida significa pensar, usar essa cabeça maravilhosa, sofisticada, fazer arte com os seus pensamentos –como se cada um fosse um ingrediente, uma ideia, um prato. Não confunda com ideia de prato! Ideia de viagem? Pode ser. Vamos planejar uma viagem para a Itália? Vamos.

Então, que tal preparar um macarrão? Não. Pense. A Itália tem peixes no sul do país Arrá! Podemos cozinhar um peixe à italiana. Sim! Podemos.
Abastecer uma geladeira é tomar uma direção. Com a ajuda da comida, mergulhamos nos cheiros, sonhamos com terras distantes. Matar a fome pode significar comer qualquer coisa básica ou, por outro lado, ter a oportunidade de transformar a sua geladeira em uma companheira de estrada.

Abra a geladeira e "faça as malas". Boa viagem!