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    Pedro Diniz

    ''Rolezinho'' em Paris

    DE PARIS

    28/02/2014 03h20

    Duas vezes por ano uma turma de fashionistas se reúne para um grande ''rolezinho'' em Paris chamado semana de moda.

    Essa turma não curte polos e bonés grifados, como no modelo clássico de rolê brasileiro, mas adora passear com uma bolsa Chanel e ostentar a última criação de seu estilista belga favorito; também não come fast food, porque prefere fast fashion; e ri pouco, afinal, quer mostrar que está ali por algum motivo importante, urgentíssimo.

    A editora do ''International Herald Tribune'', Suzy Menkes, descreveu esse rolê –que aqui começou na terça-feira (25) e irá se estender até a próxima sexta– como um grande circo. E pulando de desfile em desfile, da rue de Rivoli ao Arco do Triunfo, dá para entender a razão.

    Alguns fashionistas chegam a alugar motoristas para poderem posar de celebridades em frente ao batalhão de blogueiros de ''streetstyle'' que vigiam a entrada das apresentações. Há quem prefira levar o seu próprio fotógrafo, pois uma cena ensaiada pode valer o convite do show. Quem sabe até para o ''petit-comité'' pós-desfile.

    ''Nome na lista?'', perguntará a hostess da balada. A maioria não terá, mas se murchar a barriga e franzir a testa, esperar um pouco e dizer que não entende o que aconteceu com sua caixa de e-mail, pelo menos o 'standing' está garantido. Em pé, longe da passarela, mas quem se importa? O Instagram vai bombar.

    O desfile da Balmain, que aconteceu ontem, até agora foi o mais concorrido e o que melhor representa o clima da cidade em época de ''rolezinho''.

    Rihanna, rainha da moda ostensiva-sem-vergonha, fez barulho ao se sentar na primeira fila com uma jaqueta cáqui militar que mostrava tudo e mais um tanto. Na saída, mais de 300 pessoas sem nome na lista quase viram a van que a levou embora.

    O caos era ainda maior com a saída de editores importantes, tratados como celebridades. A dupla de Annas, a Wintour e a Dello Russo, ambas da revista Vogue, causaram tanto tumulto quanto a modelo Karlie Kloss. A top, uma das mais bem pagas do mundo, saiu do desfile montada na garupa de uma moto Vespa, que é item fashion por aqui.

    Mas, o que isso tem a ver com você? Tudo. São essas pessoas com cara de constipadas –e de quem se costuma rir– que ajudam a manter a engrenagem da moda. O desejo pelo exclusivo, seja o de possuir um casaco Balmain ou o de entrar numa sala de desfiles para sair bonito na foto, movimenta essa indústria que se capitaliza durante nove dias.

    A feira de moda Tranoï, que ocorre paralelamente ao evento principal, no Jardim de Tuileries, está com a capacidade de suas tendas quase esgotada. É lá que compradores do mundo todo fazem as encomendas das roupas que poderão ser parceladas muito em breve no Brasil.

    Os showrooms das marcas que desfilam na semana de moda estão com horários apertados para receber imprensa e donos de butiques, ávidos por aquela peça que a blogueira postou como parte do seu ''look do dia''.

    Essa movimentação influi sensivelmente no cotidiano de Paris, que mostra uma união singular entre a Federação de Criadores de Moda, a prefeitura e os moradores, que parecem não ligar para o trânsito parado, os fashionistas invadindo os cafés e as centenas de jornalistas que lotam os hotéis durante a temporada.

    Respirar moda faz parte do estilo de vida parisiense e serve de exemplo para outras cidades, como São Paulo, que ainda não sacaram os benefícios que a ''ostentação'', a ''frivolidade'' e o ''dinheiro jogado fora'' podem gerar.

    pedro diniz

    É especializado na cobertura de moda, do mercado à cultura pop. Escreve às sextas

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