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    Pedro Diniz

    Kim Kardashian, a queda das supermodelos e o 'pesadelo' da 'Vogue' americana

    DE SÃO PAULO

    28/03/2014 12h34

    No mundo das celebridades, a participante de reality show Kim Kardashian, 33, é uma mistura de Valesca Popozuda com Anita. Espécie de mulher fruta do hemisfério norte, ela estampa a capa de abril da revista "Vogue" americana, a mais importante publicação de moda no mundo, abraçada ao marido, o rapper Kanye West.

    O que era para ser apenas um sucesso de vendas virou piada na internet. O ator James Franco fez graça com a capa, com direito a vestido branco e sorrisinho maroto. Caco e Miss Piggy, personagens dos Muppets, também rodaram a internet imitando a foto.

    Na internet, além dos leitores da revista tratarem o caso como "o fim da moda" (não é só no Brasil que virou comum declarar o fim do mundinho).

    O episódio causou tanto rebuliço no mercado editorial que Anna Wintour, diretora de redação da revista e figura temida por dez entre dez fashionistas, teve de responder a críticas de leitores, de artistas e da indústria.

    A editora, que alçou modelos ao estrelato - Gisele Bündchen e Carol Trentini devem muito do seu sucesso às capas que fizeram para o título-, disse em editorial que seu trabalho é "mostrar quem define a cultura em um momento dado", e que o casal cumpre bem esse papel.

    Se o bafafá foi planejado ou não, o fato é que esse capítulo na história das revistas especializadas é reflexo da queda de prestígio que as modelos enfrentam.

    Jornais como o americano "The New York Times" e o inglês "Guardian" já publicaram matérias em que mostram o declínio das agências de modelos, que sofrem com a falta de rostos relevantes como os descobertos nos anos 1990 e 2000.

    Aqui no Brasil, por exemplo, agências como Way Model, uma das mais importantes e que representa Trentini, Ana Cláudia Michels e Alessandra Ambrósio, não encontram uma grande top desde a década passada.

    Um dos sócios da agência, o catarinense Anderson Baumgartner afima que "o Brasil ainda produz modelos espetaculares, mas a concorrência com mercados asiáticos [nas semanas de moda internacionais, chinesas e japonesas são destaques da passarela] e a falta de novas meninas como Carol Trentini, última grande modelo a ser descoberta, é uma realidade".

    A modelo Naomi Campbell saiu em defesa das colegas de profissão e ironizou a escolha de Anna Wintour, dizendo num programa de TV que estava sendo "politicamente correta" ao não comentar o assunto.

    Junto a Cindy Crawford, Cláudia Schiffer, Linda Evangelista e Christy Turlington, ela fazia parte do time de tops de John Casablancas, fundador da agência Elite, que morreu no ano passado, que criou o termo "supermodelo".

    A cultura das subcelebridades e a influência da TV americana, que vive uma época dourada de audiência com a criação de programas e séries de apelo popular, influenciou na escolha da capa com Kardashian.

    Ao que parece, a ojeriza dos fashionistas está mais ligada ao fato de um ícone improvável como a participante invadir uma seara antes restrita ao "high fashion" do que a um possível mau gosto da revista.

    Com o aval de Anna Wintour, atenta à fatia considerável de americanos da classe média que tem a garota da capa como referência de estilo e que está louca para consumir, o conceito sobre o que é belo e fashion está prestes a mudar.

    pedro diniz

    É especializado na cobertura de moda, do mercado à cultura pop. Escreve às sextas

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