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    Pedro Diniz

    O que a nova geração de estilistas tem na cabeça?

    DE SÃO PAULO

    06/06/2014 13h00

    Termina nesta sexta-feira (6), em São Paulo, a 36ª Casa de Criadores, único grande evento brasileiro de desfiles dedicado a servir como vitrine para novos estilistas exibirem suas coleções.

    Proponho, então, um teste rápido: pense no último designer de moda em início de carreira de quem você tenha comprado alguma peça de roupa ou visto por mais de duas temporadas na mídia especializada.

    Quem acompanha moda com alguma frequência talvez tenha pensado em três criadores, cinco, no máximo. O consumidor médio, provavelmente nenhum.

    Uma pesquisa realizada há alguns anos pela empresa Box 1824, especializada em tendências e comportamento de consumo, dá conta de que os estilistas mais lembrados pelas brasileiras são Clodovil (1937-2009), Ronaldo Ésper e Alexandre Herchcovitch.

    O último, de 42 anos, é considerado o designer com a carreira mais sólida da moda nacional e teve apenas 1% dos votos. Os outros dois se especializaram em vestidos para noivas, o segmento que mais cresce na indústria fashion brasileira.

    Nenhuma das mulheres ouvidas pela Box 1824 conseguiu dizer espontaneamente o nome do designer, só os reconhecia quando liam a lista apresentada.

    Tomando como exemplo a Casa de Criadores, a falta de investimento parece ser o principal motivo do distanciamento das pessoas com nomes desconhecidos da moda.

    O estilista Renan Serrano cancelou o desfile de verão 2015 de sua grife Trendt, que aconteceria hoje, após um patrocinador não liberar a verba prometida que seria destinada à contratação das modelos.

    A marca, aliás, foi uma das escolhidas para um projeto da butique italiana Luisa Via Roma, que passará a vender peças de etiquetas brasileiras com potencial de crescimento na Europa. "Vou acabar tendo que fazer só um catálogo", diz Serrano.

    Há pouca gente disposta a arcar com os custos de abrir uma marca e correr o risco de perder dinheiro no início do negócio.

    Os conglomerados de moda que se formaram no Brasil na primeira metade dos anos 2000, como InBrands, AMC Têxtil e Restoque, por exemplo, também não parecem animados em investir em novos nomes como fez o grupo francês LVMH no início deste mês.

    O estilista inglês Thomas Tait ganhou quase R$ 1 milhão do grupo na primeira edição do concurso LVMH Prize. Além do dinheiro, a empresa oferece suporte de longo prazo para a marca estruturar seu negócio, do marketing à distribuição da peças.

    Entre os jurados do concurso estão quatro dos maiores estilistas do mundo: o alemão Karl Lagerfeld, da Chanel, o italiano Riccardo Tisci, da Givenchy, o francês Nicolas Guesquière, da Louis Vuitton, e o belga Raf Simons, da Christian Dior.

    No Brasil, é comum que marcas de bebida e de cosméticos patrocinem os desfiles dos novos criadores, embora os critérios para a ajuda possam interferir diretamente na criação.

    A Tilda, do estilista Anderson Thomaz, apresentou ontem na Casa uma boa coleção inspirada no slogan "Transform Today (em tradução literal, "transforme hoje"), da vodca Absolut.

    De acordo com o texto enviado à imprensa, a marca de bebidas acredita que "a criação deve ser livre, compartilhada e incentivada". Mas só se o nome da bebida estiver à mostra, claro.

    Uma ideia para os novos estilistas, e para quem quiser vesti-los, é o portal The Stylist. Espécie de loja online mantida pelos próprios internautas, foi aberto em abril pelos empresários Mariana e Bruno Amaro, Carlos Melo e Isabelle Mascetti.

    Eles escolhem projetos de coleção enviados por e-mail e colocam, após uma avaliação do estilista Reinaldo Lourenço, essas roupas à venda.

    Se o fluxo no caixa for satisfatório, a produção das próximas peças é custeada pelo próprio The Stylist, que fica com parte do dinheiro arrecadado.

    Não é necessário colocar o nome do site na roupa.

    pedro diniz

    É especializado na cobertura de moda, do mercado à cultura pop. Escreve às sextas

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