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    Pedro Diniz

    Melania Trump, Hillary e Doria. Por que todos usam Ralph Lauren

    11/11/2016 02h00 - Atualizado às 10h47
    Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Há três códigos de vestimenta no mundo do poder que não reconhecem sexo ou posições políticas. O primeiro é a medida certa da discrição, o segundo, a busca pela identificação do público com a imagem, e o terceiro, esse ainda pouco explorado pela semiótica, a mensagem oculta bordada na etiqueta. Neste semestre, um nome colou como tatuagem no noticiário: Ralph Lauren.

    A marca apareceu em toda a campanha de Hillary Clinton, vestida com tons claros até o discurso da derrota, quando optou pelo luto da combinação roxo e cinza-chumbo.

    Do outro lado, a nova primeira-dama americana, Melania Trump, antecipou o cessar fogo do discurso apaziguador do marido quando apareceu, um dia antes, com um macacão tingido de branco da mesma grife.

    Timothy A. Clary/AFP
    Republican presidential candidate Donald Trump, flanked by wife Melania, gives the thumbs-up as he arrives with members of his family for an election night party at the New York Hilton Midtown in New York on November 9, 2016. Trump won the US presidency. / AFP PHOTO / Timothy A. CLARY
    O presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump e sua mulher, Melania, vestida de Ralph Lauren

    Não se trata de compreender o jogador impresso nas camisetas Polo Ralph Lauren de Joao Doria, essas que ele sonha ver todos os brasileiros vestindo um dia, mas sim o estilista cuja história simboliza o "sonho americano".

    Sinopse do "blockbuster": menino pobre do Bronx e filho de imigrantes russos, sonha no colégio em ser um milionário, trabalha como vendedor, abre uma lojinha de gravatas e, meio século depois, figura na lista de bilionários da Forbes como empresário da moda.

    Como lembrou a diretora de moda do "The New York Times", Vanessa Friedman, em artigo sobre o visual de Hillary Clinton, Lauren é o "mais americano dos estilistas", "criou um império sobre a mitologia do velho-oeste selvagem" e "aparece no final dos seus desfiles com botas de caubói".

    A imagem atrelada à marca do estilista, mesmo que esteja embebida na aura glamorosa do marketing das celebridades e das semanas de moda, é a da América profunda, a classe operária da qual Trump e Hillary disputavam votos.

    Melania percebeu, embora tardiamente, a retórica da concorrente do marido. É provável que, a partir de agora, trate de abolir do armário suas peças de grifes italianas e aposte na moda americana, numa versão mal editada de Michelle Obama, mas com aspirações de Jackie O. (1929-1994), a primeira-dama condescendente e "fashion" do ex-presidente John Fitzgerald Kennedy (1917-1963).

    A intensa cobertura da mídia americana sobre os "looks" dos presidenciáveis e de suas famílias fortaleceu a mensagem transmitida aos eleitores pela marca.

    "Grifes devem criar um estilo de vida" e "entender as necessidades das pessoas", disse Lauren, em entrevista recente à Folha. "Somos mais que camiseta polo."

    Bem mais. Diferentemente de Tommy Hilfiger, Diane Von Furstenberg e Michael Kors, criadores de moda nova-iorquina demais para uma briga que não seria decidida nos litorais, Ralph Lauren conseguiu tocar tanto a parcela abastada dos Estados Unidos quanto aquela que ainda sonhará por muito tempo.

    pedro diniz

    É especializado na cobertura de moda, do mercado à cultura pop. Escreve às sextas

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