• Colunistas

    Monday, 06-May-2024 04:26:24 -03
    Pedro Diniz

    O boicote da moda americana à família Trump

    02/12/2016 02h00

    O novo presidente dos Estados Unidos nem presidente é ainda e parte de sua família já enfrenta um boicote constrangedor da moda americana, cujas reações não ameaçam apenas a imagem pública dos Trump, mas também seus negócios no ramo do vestuário.

    Alguns dos principais estilistas da indústria daquele país, entre eles Tom Ford, Phillip Lim e Marc Jacobs, já declararam que não vincularão seus nomes ao da próxima primeira-dama, Melania.

    "Pessoalmente, prefiro colocar minha energia no auxílio daqueles que serão prejudicados por [Donald] Trump e seus apoiadores", disse Jacobs, mais criativo dos designers americanos, ao portal de notícias "Women's Wear Daily".

    À mesma publicação, o porta-voz do estilo engomadinho nova-iorquino, Tommy Hilfiger, foi o único a se declarar entusiasmado com a possibilidade de vestir a ex-modelo.

    + sobre moda

    Toda balbúrdia começou no mês passado, com uma carta da estilista francesa radicada nos EUA, Sophie Theallet, endereçada aos colegas de profissão. Uma das designers preferidas da atual primeira-dama, Michelle Obama, ela se posicionou contra "a retórica do racismo, sexismo e xenofobia" da campanha presidencial de Trump e pediu que, assim como ela, seus pares não se envolvessem com a mulher do republicano.

    Os protestos podem parecer buchicho fashonista, mas, num país como os EUA de Barack Obama, o assunto ganha roupagem política. Nos quase oito anos como primeira-dama, Michelle impulsionou a indústria local ao optar por usar marcas americanas em suas aparições públicas.

    Jovens estilistas, como Thakoon e Jason Wu, e nomes consolidados, de Narciso Rodriguez a Michael Kors, viram seus nomes ascenderem nos guarda-roupas e os lucros dispararem a cada flash. Com tino para a diplomacia, Michelle trajou boa parte da criatividade do seu país e animou o mercado como nenhuma outra primeira-dama conseguiu.

    É plausível, então, o conteúdo do comunicado emitido pela diretora do CFDA (Conselho de Estilistas da América), Diane Von Furstenberg, à comunidade de designers. No texto, amplamente reproduzido em redes sociais, ela diz que "Melania merece o mesmo respeito destinado às primeiras-damas anteriores a ela".

    Furstenberg sabe que desqualificar o novo rosto da Casa Branca põe em xeque a manutenção do projeto de longo prazo, firmado entre Michelle, o CFDA e a imprensa de moda americana, de tornar relevante o mercado de vestuário do país.

    Sim, porque não foram impressas à toa as inúmeras capas de revistas de moda protagonizadas por Michelle e nem aconteceu por acaso, em setembro, um evento em prol da eleição de Hillary Clinton promovido pelo CFDA, a editora-chefe da revista "Vogue", Anna Wintour, e estilistas.

    FORA DE ESTOQUE

    O resultado da eleição também pode minar o sucesso das marcas geridas pelo clã Trump. Infiltrada no negócio da costura –Donald tem uma grife homônima de alfaiataria masculina e a filha mais velha, Ivanka, comanda uma marca de roupas femininas– a família contabiliza prejuízos por causa de uma campanha virtual de boicote às varejistas que comercializam vestuário com o sobrenome da família.

    Criada pela estrategista digital Shannon Coulter como protesto ao apoio de Ivanka à campanha do pai, a campanha inicialmente instigava o boicote à marca dela por meio da hashtag #grabyourwallet (ou, #peguesuacarteira). Após a vitória de Trump, o escrito passou a ser usado contra todas as empresas que têm acordos com as Organizações Trump.

    O e-commerce Amazon e as multimarcas Macy's, Bloomingdale's e Nordstrom entraram na fogueira. Clientes ameaçam deixar de comprar em seus endereços se as gravatas e os ternos da Donald J. Trump Signature Colletion, como é chamada a linha de moda do novo presidente, e os vestidos e acessórios de Ivanka Trump, não forem banidos dos estoques.

    Um parêntese: soa como piada o fato de Trump, defensor de um projeto econômico protecionista que "recupere" a indústria americana, mandar produzir sua linha de roupas na Indonésia e na China, país que o empresário acredita "estuprar" os Estados Unidos.

    Da lista de 32 empresas parceiras de Trump apontadas pelo aplicativo Coalizão Democrática Contra Trump, lançado em novembro por um grupo de programadores, a Shoes.com foi a primeira a abraçar a ideia e tirou os sapatos da marca de Ivanka do catálogo.

    Reprodução/Twitter
    Reprodução de vídeo de queima de par de tênis da marca New Balance
    Reprodução de vídeo de queima de par de tênis da marca New Balance

    QUEIMA DE ESTOQUE

    O desgaste na imagem da família também jogou na fogueira, literalmente, a imagem da marca de sapatos New Balance. Após seu vice-presidente, Matthew LeBreton, dizer ao jornal "The Wall Street Journal" que "com Trump, vamos sentir as coisas andando na direção certa", vários clientes da marca postaram vídeos ateando fogo em pares da grife.

    Como se não bastasse, o blogueiro neo-nazista Andrew Anglin, dono do blog americano "The Daily Storm", cravou que os New Balance são os "sapatos oficiais das pessoas brancas". A tragédia midiática estava instalada.

    Quem saiu na frente foi a concorrente Reebok, imigrante britânica radicada nos Estados Unidos. Desde o início da queima dos sapatos, a marca esportiva oferece um par de tênis a quem jogar no lixo seus New Balance. E olha que Donald Trump nem é presidente ainda.

    pedro diniz

    É especializado na cobertura de moda, do mercado à cultura pop. Escreve às sextas

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024