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    Pedro Diniz

    Saída de Riccardo Tisci da Givenchy faz melhor relação estilista-marca acabar

    03/02/2017 02h00

    Foi a partir dos anos 1990, devido à aposentadoria de estilistas como o americano Calvin Klein, 74, e o francês Thierry Mugler, 68, e ao processo de renovação das marcas centenárias, que o mundo da moda ganhou alguns dos seus maiores talentos. Um dos mais festejados, o estilista italiano Riccardo Tisci, anunciou na quinta-feira (2) sua saída da grife francesa Givenchy, após 12 anos no comando criativo da etiqueta.

    Assim como Marc Jacobs (ex-Louis Vuitton), John Galliano (ex-Christian Dior) e Tom Ford (ex-Gucci), Tisci emprestou novo olhar para uma marca estagnada, até os anos 2000 lembrada apenas pelo tubinho preto de Audrey Hepburn no filme "Bonequinha de Luxo" (1961), e fundou um novo estilo. É dele a responsabilidade por remodelar o "streetwear", a moda urbana, em produto de luxo.

    A camiseta com o escrito Favela 74, nome de uma das coleções da Givenchy mais influenciadas pela cultura latina, virou febre à época do seu lançamento, em 2013. Antes disso, Tisci já havia estremecido a elite do luxo ao fazer da amiga e modelo brasileira Lea T. o rosto da grife. Ela se tornaria a primeira top transexual do mundo.

    "Lea foi um escândalo. Durante seis meses fui tachado de louco pela moda. Mas, depois que intelectuais e revistas de filosofia começaram a discutir, a partir dela, a questão da transexualidade, todo mundo achou aquilo 'fashion'", contou o estilista, em 2014, à revista "Serafina.

    Cutucar os padrões do glamour, palavra comumente vinculada aos vestidos de festa exuberantes, e entregar alguma "feiura" aos olhos acostumados à beleza convencional, fez dele um estilista controverso e incompreendido pela indústria tradicional da França.

    "A beleza comum pode ser extraordinariamente feia. Toda feiura é, na verdade, um tabu que a sociedade põe na cabeça das pessoas", disse ele, em entrevista à "Ilustrada"

    Mas "como tudo na moda é movido a números", como disse uma vez, nenhuma polêmica manchou sua relação com os executivos da LVMH, grupo que é dono da Givenchy. Desde sua entrada na marca, em 2005, a empresa passou de 290 para 930 empregados e angariou lucros anuais estimados em R$ 500 milhões.

    Em comunicado, o presidente do conglomerado que também é dono de Louis Vuitton, Kenzo e Christian Dior, Bernard Arnault, disse que a "visão incrível" de Tisci é capaz de "sustentar a continuação do sucesso [da marca]". Ainda não há nomes cotados para substituir o estilista e a grife cancelou o desfile que faria na próxima semana de moda de Paris, em março.

    O divórcio põe fim a melhor colaboração estilista-marca desde a entrada de Jacobs na Vuitton, em 1996. O sobrenome do estilista Hubert de Givenchy ficou tão pop que virou letra de música, o sucesso "Formation", de Beyoncé, e colocou o nome de Riccardo Tisci na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo segundo a revista "Forbes".

    Muito do êxtase gerado por suas coleções é fruto de uma estratégia de marketing baseada em "likes" no Instagram e amizades duradouras com parte do olimpo do showbiz.

    Além de Beyoncé, a popstar Madonna, as atrizes Meryl Streep e Julia Roberts, Kim Kardashian e as supermodelos inglesas, Naomi Campell e Kate Moss, formaram a "gangue" da marca, como Tisci chamava seu exército de seguidores.

    RETORNO ÀS ORIGENS

    Se o boato se confirmar, Tisci ganhará ainda mais adeptos. Corre nos bastidores a notícia de que o estilista deve assumir nos próximos meses o comando da grife Versace. Dona da marca, a italiana Donatella Versace, que a convite do amigo protagonizou uma das últimas campanhas da Givenchy, disse em entrevista recente que os dois compartilham a mesma visão de mundo.

    Tanto a grife quanto o designer negam rumores sobre uma possível parceria, mas a imprensa europeia já tem texto pronto para quando o contrato for oficializado.

    A entrada na Versace representaria um passo largo na carreira de Tisci. Ele poderia dialogar com um número maior de consumidores, devido à presença global da Versace, e encabeçar o ambicioso projeto de expansão que, segundo o site "WWD", Donatella se prepara para colocar em prática.

    Uma possível volta do estilista às origens representaria, para sua Itália natal, um impulso na indústria de moda do país, que desde o início desta década batalha para sair da sombra de Paris e, com a série de atentados à capital francesa, se reposiciona como epicentro do consumo de luxo na Europa.

    pedro diniz

    É especializado na cobertura de moda, do mercado à cultura pop. Escreve às sextas

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