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    Pedro Diniz

    Ceará repensa formato de semana de moda e mostra produção artesanal

    26/05/2017 16h36

    Divulgação
    Modelo desfila coleção do estilista Even Saldanha, em Fortaleza (CE)
    Modelo desfila coleção do estilista Even Saldanha, no Dragão Fashion Brasil, em Fortaleza (CE)

    Um dos gargalos da confecção brasileira é o reconhecimento do artesanato e da iconografia nacional dentro da criação de moda. O estranhamento das marcas com os traços têxteis locais, como a renda e o bordado, criou um abismo entre artesãos e grifes de moda. O Dragão Fashion Brasil, que acontece até amanhã (27) em Fortaleza, no Ceará, tenta inverter a constante.

    Os 23 desfiles desta edição, que comemora 18 anos do evento, um dos maiores de moda autoral do país, fazem paralelos entre as raízes da cultura brasileira e a confecção artesanal. A herança estética do sertão nordestino, a paisagem árida e a natureza inspiram desde cartela de cores até estampas, que se fundem em propostas de vestidos de festa e roupa casual.

    A diferença entre esse evento e outros que têm a passarela como motor é que há pouca ou nenhuma intenção em transformar o desfile em plataforma de vendas. Quase todos os estilistas, principalmente nomes da região, como Lindebergue Fernandes, Kalil Nepomuceno, Caio Nascimento e Iury Costa, descolam suas criações da vitrine.

    Mesmo com alguns evidentes deslizes de modelagem e edição duvidosa, o exercício desses estilistas é de resistência. Se for levado em conta a importância do desfile no marketing das grifes brasileiras, que transformam a apresentação em catálogo de vendas, mostrar peças livres de qualquer amarra comercial é um ato político.

    O conceito do DFB só é comparável ao da última edição do evento Casa de Criadores, em São Paulo, quando questões raciais e de gênero permearam parte das apresentações dos estilistas escalados, em sua maioria do eixo Rio-São Paulo.

    Outro ponto importante no balaio de referências do evento é como ele se apresenta. Espalhados pelo terminal marítimo da cidade, onde acontecem as apresentações, vários estandes vendem peças confeccionadas por pequenos empreendedores cearenses.

    Aberto ao público, o "festival de moda" ainda abarca música e gastronomia. Num espaço ao ar livre, há shows de bandas locais e concorridos quiosques de restaurantes que servem comida regional.

    À tarde, antes dos desfiles, a programação inclui palestras e cursos de orientação profissional sobre macrotendências e nichos de mercado. O evento, dessa forma, não se esvazia no mero ufanismo "fashion".

    Quando virou questão de sobrevivência repensar formatos de desfiles, o Dragão poderia servir de exemplo para um novo momento das semanas de moda nacionais, que devem se abrir para outras vertentes da cultura, para o público e para uma retomada da moda genuína.


    O jornalista viajou a convite do Dragão Fashion Brasil

    pedro diniz

    É especializado na cobertura de moda, do mercado à cultura pop. Escreve às sextas

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