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    Pedro Diniz

    Promessas da moda usam lama de Mariana e impressão 3D em desfile

    28/11/2017 23h02

    A temporada de desfiles de 2017 acabou nesta segunda-feira (27) com uma grande apresentação de promessas do design abrigadas no projeto Senai Brasil Fashion.

    O Museu do Amanhã, na zona portuária do Rio, foi cenário para as ideias dos 24 estilistas e modelistas que receberam orientação dos designers Alexandre Herchcovitch, Lenny Niemeyer, Ronaldo Fraga e Lino Villaventura.

    O exercício livre de criação foi ponto comum entre os participantes de dez Estados brasileiros. Dejetos da tragédia ambiental de Mariana (MG) e técnicas de impressão 3D aplicadas ao vestuário resumiram o que esses designers imaginam como ponteiros da moda do futuro.

    Preocupação com meio ambiente, processos tecnológicos integrados à confecção de vestuário, resgate de identidade local e clareza na questão funcional da roupa são assuntos que permeiam o pensamento dos jovens criadores.

    A coluna selecionou cinco destaques do desfile.

    Fortaleza (CE)

    Materiais têxteis pouco usados na confecção de roupas, como o termo-isolante tyvek e o látex, ganharam a moda nesta década.

    A dupla Daiane Rocha e Paulo Ferreira Neto olharam para as praias de sua cidade natal e incluíram na lista o "ripstop", tipo de náilon usado para fabricar lonas de kitesurfe. As linhas geométricas e o colorido do material usado no esporte, comum em praias do litoral nordestino, adornaram casacos, vestidos e coletes feitos com a matéria-prima improvável.

    Além de dar nova utilidade ao tecido, a dupla ainda levantou a bandeira do reaproveitamento têxtil.

    Colatina (ES)

    A coleção de Amanda de Almeida e Nilceia Silva chama a atenção para a responsabilidade do homem com a natureza.

    O maior desastre ambiental do país virou base para "looks" tingidos com resíduos de lama e pó impregnados no que restou de Mariana (MG) após o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, em 2015.

    Essa "tinta" produziu tons rosáceos, aplicados em retalhos de organza cujo efeito remetia ao craquelado da lama seca. Escondidas debaixo dessa crosta havia bodies de brilho colorido, lidos como sobras de vida encoberta pela lama.

    Rio de Janeiro (RJ)

    Mais conectada ao relógio da moda, a dupla Juliana Siqueira e Raíssa Campos criou uma coleção de praia baseada na estética urbana e na do funk carioca.

    Detalhes de cartas de tarô e planetas estampados levaram humor às calças pantalonas e às peças trançadas. Um interessante trabalho de composição transformou uma jaqueta em uma espécie de saída de praia com diferentes usos.

    Goiânia (GO)

    A discussão sobre a relevância do trabalho manual com o avanço da tecnologia embasou a coleção de Paloma de Lima e Fernanda Marin, toda confeccionada em uma impressora 3D.

    Ferramenta ainda tratada com ressalvas pela moda devido às limitações técnicas e ao aspecto plastificado do produto final, a máquina imprimiu uma base de renda para compor vestidos românticos com viés vintage, um meio-termo entre o passado e o futuro da moda.

    Natal (RN)

    Na esteira da onda sem gênero, o estilista Dinedso Fonseca e a modelista Vanessa Batista propõem um olhar minimalista sobre a fusão do passado artesanal do país, traduzido nos pequenos detalhes de rendas, e a estética futurista.

    Roupas com proporções assimétricas, contornos geométricos e tons neutros levam certa leveza arquitetônica à coleção da dupla.

    pedro diniz

    É especializado na cobertura de moda, do mercado à cultura pop. Escreve às sextas

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