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    Pedro Passos

    Clima de mudança

    23/10/2015 02h00

    Refém de desafios de curto prazo, o governo terá a oportunidade, a partir do último dia de novembro, de discutir cenários para políticas e diretrizes de longo prazo capazes de dar contornos mais modernos e inovadores para nossa economia.

    A data marca o início da COP21, em Paris, o fórum que visa construir uma plataforma de ações para o corte dos gases de efeito estufa, com potencial para reconfigurar a economia global. Até agora, 149 países anunciaram suas metas de redução de CO até 2030, incluindo China, maior poluente no mundo, respondendo por 25% do total de emissões, EUA, Europa, Índia, Rússia e Japão, nessa ordem.

    O Brasil, sétimo no ranking, comprometeu-se em reduzir em 43% as emissões até 2030 em relação a 2005, concentrado no desenvolvimento de energias renováveis e no cerco ao desmatamento na Amazônia. Embora parte da meta já esteja cumprida, ela é mais ambiciosa que as da China e da Índia e próxima da adotada pelos EUA e Europa.

    É o início de um processo que desencadeará mudanças estruturais e revisão de prioridades. Os acordos no âmbito da COP21 implicarão ruptura radical do padrão energético baseado no uso intensivo do petróleo, sobretudo em geração elétrica e transportes, e na queima de carvão.

    Essa transformação levará ao nascimento de novas tecnologias e indústrias e a mudanças de estilo de vida e padrões culturais. É também preocupante, ao pôr em causa projetos que tenderão a ser cada vez mais questionados, como a exploração do pré-sal.

    Países cujo desenvolvimento se apoia na economia do conhecimento e no empreendedorismo sofrerão menos que os dependentes de insumos fósseis e atividades extrativas. É isso que nos cabe refletir e agir com visão, alocando recursos neste "novo mundo" de desafios.

    A migração para uma matriz energética limpa requer a combinação de políticas públicas com modelos de negócios que incorporem práticas menos agressivas ao ambiente. É uma mudança mandatória para as empresas. A denúncia de que a Volkswagen adulterou dados sobre os níveis de emissões dos veículos a diesel abalou seu valor de mercado e desencadeou ações de consequências imprevisíveis.

    Aos governos caberá agir na frente fiscal, trocando incentivos à produção de petróleo pela geração de energias renováveis e apoio a indústrias voltadas para esse fim.

    A perda de protagonismo do petróleo exige decisões pragmáticas e uma estratégia que já tarda, considerando o estágio tecnológico nesta direção da China e da EUA. Estudo da New Climate Economy estima que nos próximos 15 anos "US$ 90 trilhões serão investidos em infraestrutura, uso do solo e sistemas energéticos", para adequação às regras ambientais, criando, nesse rastro, uma esteira de novos negócios.

    O Brasil reúne condições para embarcar nesse movimento. A questão não é só ambiental, campo em que não nos saímos mal, já que 70% da geração de eletricidade vêm de hidrelétricas. Mas a gradual substituição das termelétricas por fontes renováveis e geração distribuída, com a massificação de placas de energia solar, é só o ponto de partida.

    Os desdobramentos serão muito mais amplos, indo da reinvenção do setor automotivo e do transporte de massa a equipamentos de baixo consumo de energia.

    Investir em pesquisa e melhorar o ambiente de negócios são pré-requisitos nessa corrida. O resto fica a cargo da inventividade e ousadia empresarial, entre companhias novas e já estabelecidas.

    Não se pode desprezar essa onda. Se os compromissos da COP21 forem para valer, eles mudarão a economia e o perfil energético mundial, abrindo oportunidades que raramente despontam com tanta intensidade e rapidez.

    pedro luiz passos

    É empresário e conselheiro da Natura. Escreve às sextas, a cada duas semanas.

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