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    Pedro Passos

    Para enfrentar a crise política é preciso avançar com as reformas

    16/12/2016 02h00

    Se a volta da normalidade econômica é a prioridade que movimenta o Congresso Nacional, sugerindo reconhecer, ainda que tardiamente, a precariedade das contas públicas em todo o país, à gestão de Michel Temer só resta dobrar a aposta nas reformas até por sobrevivência.

    Com sua base política, e ele mesmo, no foco das atenções devido à súbita profusão de vazamentos de delações nem sequer homologadas, o que está ameaçada é a coesão formada para tirar a economia da crise a partir do ataque às causas que a levaram a uma recessão profunda, com um biênio de retração e o prognóstico de outro ano muito fraco.

    Ainda que não houvesse as incertezas políticas, o quadro já seria dos mais graves tal o banzé fiscal perpetrado nos últimos anos em escala industrial. Mas com desassossego não se sai do lugar.

    Governo fragilizado politicamente é como time ameaçado pelo descenso –todo jogo é tenso e decisivo.

    A aprovação final, depois de quatro rodadas de votações na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, da PEC que limita o aumento real do gasto público nos próximos 20 anos é uma demonstração de que há consenso sobre os rumos que o país deve tomar.

    Há outras paradas indigestas, todas cruciais, como a que começou a tramitar para reformar a previdência. Mas, como já mostra o jogo de cena dos setores mais oportunistas da base governista na Câmara, a tramitação da PEC da Previdência deverá ser acidentada. Ela é irmã siamesa da PEC do Teto, por sua vez, um conjunto vazio de intenções se não for seguida de muitas outras reformas e decisões "ad hoc".

    O colapso de vários governos estaduais ajuda a percepção do fim de linha da tolerância com a inépcia da governança pública. O caso do Rio de Janeiro, em que o secretário da Fazenda revelou dispor de provisão para apenas sete meses da folha de pagamento em 2017, é um trailer do filme de horror em exibição no país. Não há jeito, os Estados terão de encolher em contrapartida a um pacote vigoroso de ajuda pela União.

    Nos tempos de folga fiscal, crédito farto, poucas dívidas, demanda externa forte, bastava abrir as torneiras, como se fez a partir de 2004. Tais saídas hoje estão bloqueadas porque não souberam usar as torneiras com parcimônia.

    Mas o que ainda segura a atividade econômica é agora solução para ajudar a aliviá-la –o ciclo da Selic. O Banco Central dá sinais de sentir-se confortável com a inflação, a senha para baixar a taxa de modo expressivo na reunião do Copom de 11 de janeiro. A distensão dos juros é das poucas coisas à mão para dar algum gás à economia e melhorar o ambiente para que avancem as outras reformas essenciais.

    A tendência é que as corporações do setor público fiquem isoladas na pressão para preservar seus privilégios, já que se percebe até mesmo entre grupos econômicos ambientados à sombra protetora do Estado a tomada de consciência sobre a necessidade dos ajustes estruturais.

    Se o governo mantiver foco e o Congresso Nacional não entrar em pânico com o noticiário adverso, as chances de dar certo ficaram maiores após a aprovação da PEC do Teto. Agora é prosseguir, com uma pitada de ousadia, e resistir às chantagens e pressões. Recuar não é opção.

    pedro luiz passos

    É empresário e conselheiro da Natura. Escreve às sextas, a cada duas semanas.

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