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    Pedro Passos

    O Brasil pode (e deve) ser pivô dos grandes acordos comerciais

    01/12/2017 02h00

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Contêineres refletidos em espelho em pátio do porto de Santos (SP)
    Contêineres refletidos em espelho em pátio do porto de Santos (SP)

    Como uma obra em construção, perpassando os governos de FHC, Lula, Dilma e Temer, a reforma do sistema de aposentadorias é polêmica, mas necessária. Apesar dos políticos, está sempre avançando. E não só aqui mas no mundo, tal como o desenvolvimento do comércio.

    É a demografia (além das iniquidades entre os regimes público e privado) que força a readequação das regras previdenciárias devido ao viés universal de aumento da população idosa. E são a tecnologia e os eventos geoeconômicos que renovam o mapa do comércio no mundo —uma das áreas da economia brasileira mais resistente à inovação.

    Embora aparentemente desconexos, os dois assuntos têm relação como exemplos da necessidade de atualização de velhos paradigmas, ideias e consensos. O que antes se via de um jeito, hoje se vê de outro, e mais por razões culturais, sociais e tecnológicas que políticas.

    Contra tais forças da transformação não há como resistir. Elas são maiores que a vontade de governos. Na Previdência, reformas parciais deixaram um deficit de dimensões explosivas que em poucos anos sugaria toda a receita tributária se nada fosse feito. Mas será feito, pois não se trata de questão opcional. A inação nos condenaria à estagnação. Foi o que aconteceu com a indústria de ponta no Brasil.

    A baixa exposição da economia ao comércio no mundo a partir dos anos 1980 encolheu o peso da indústria, com correlações negativas para a educação, o emprego, a tecnologia, a complexidade das cadeias produtivas e o crescimento.

    O país se satisfez em produzir para o mercado interno e em reduzir importações, por meio de tarifas protecionistas, juros subsidiados, incentivos tributários. O efeito foi regressivo. Tais barreiras à concorrência externa deprimiram (e ainda deprimem, pois persistem) a agregação de valor à indústria e, sobretudo, a produtividade, sem a qual negócios não florescem e só há perdedores.

    Nos últimos anos, o país teve chances de sair dessa armadilha, que levou ao atraso da indústria e bloqueou sua modernização. Por isso, a parcela dos componentes importados nas exportações manufatureiras —indicador clássico de inserção em cadeias globais de valor— é de apenas 14,3% no Brasil, segundo pesquisa da OMC e da OCDE (com dados de 2011), enquanto na China e na Coreia do Sul alcança, respectivamente, 40% e 47%.

    A oportunidade desponta, outra vez, com o redesenho dos tratados de comércio e serviços como o TPP, reunindo 11 nações da Ásia e da América Latina (México, Peru e Chile), sob a liderança dos EUA de Barack Obama. Donald Trump rompeu o acordo e ficou isolado.

    O TPP foi reaberto à revelia dos EUA, coincidindo com a diretriz do líder Xi Jinping de expandir a influência do comércio e do investimento chinês, ao tempo em que Japão, Austrália e Coreia do Sul articulam com Índia e Indonésia (excluídas do TPP) estratégias que não os façam satélites da China nem reféns do humor de Trump.

    Na própria América Latina, sinais de maior integração econômica estão de volta à medida que o populismo enfraquece e o Mercosul se fortalece. Em tese, o Brasil seria pivô natural nessas construções geoeconômicas, que incluem a conclusão do acordo com a Europa e a consolidação de uma zona de livre-comércio na América do Sul.

    Tais oportunidades históricas não vão cair no colo. O governo tem de tomar a dianteira desse processo, além de aposentar os devaneios terceiro-mundistas e desmontar a parafernália protecionista. Não dá mais para seguir protegendo negócios maduros que vão muito bem onde a concorrência é brava. É chegada a hora da maioridade.

    pedro luiz passos

    É empresário e conselheiro da Natura. Escreve às sextas, a cada duas semanas.

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