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    Por quê? Economês em bom português

    Por que alguém votaria em Donald Trump?

    25/10/2016 05h00

    Temas como o direito ao aborto, mais que a economia, explicam a ascensão do candidato mais controverso da história dos EUA

    As eleições presidenciais nos Estados Unidos estão marcadas para 8 de novembro. Várias dezenas de pesquisas de opinião, nacionais e estaduais, indicam alta probabilidade de vitória de Hillary Clinton, candidata do Partido Democrata.

    Caso esses prognósticos estejam certos, respirará aliviada a comunidade internacional —e nós do Porque.com.br também.

    TRUMP É UMA BOA PARA O BRASIL?

    Brasileiros, em particular, tendem a ser negativamente afetados em caso de vitória do candidato do Partido Republicano, o titã do setor imobiliário e ex-dono de cassinos Donald Trump.

    Os Estados Unidos são uma das economias mais abertas a exportações de produtos manufaturados —ou seja, de produtos feitos em grande quantidade, de maneira padronizada, em série.

    Foi vendendo para empresas americanas, por exemplo, que a Embraer construiu sua reputação de qualidade ao redor do mundo.

    Mas Trump não deixa dúvidas de que é inimigo do livre comércio.

    Os Estados Unidos são um dos destinos preferenciais de imigração para brasileiros. Muitos de nós trabalhamos (alguns, ilegalmente) lá e mandamos dinheiro para parentes ou poupamos para um futuro melhor no Brasil.

    Mas Trump não deixa dúvidas de que desconfia de imigrantes, com algum destaque para os latinos, e que gostaria de bloquear a nossa entrada e preparar a nossa deportação.

    TRUMP É UMA BOA PARA O MUNDO?

    Os Estados Unidos estão diretamente envolvidos em alguns conflitos bélicos pelo mundo, em especial, na guerra da Síria e na luta contra o terrorismo do Estado Islâmico. Tememos o que viria de um candidato de humor volátil como Trump, que perde as estribeiras após as menores provocações e discordâncias.

    Em vez de considerações bem-pensadas sobre os problemas políticos complexos de um país importante como os Estados Unidos, Trump opta por um coquetel nada palatável —de ignorância altiva, simplificações grosseiras e apreço por teorias conspiratórias absurdas.

    COMO TRUMP TEM TANTOS VOTOS?

    Ainda que seja derrotado, é pouco provável que Trump consiga menos que 40% dos votos totais. Mas como explicar um apelo popular tão grande?

    Vários observadores apostam na seguinte hipótese: o apelo popular de Trump se deve ao apontamento de problemas econômicos graves, que afetariam parte significativa da população americana.

    Trump descreve uma espécie de golfo que se abre entre ricos e remediados, o desaparecimento dos empregos industriais e uma crescente incerteza sobre o futuro.

    Até existe um fundo de verdade aí. Muitos empregos industriais desapareceram, sim, enterrados pela competição de produtores de baixo custo, como os de China e México.

    Mas faz sentido tamanho pessimismo com a economia, como o demonstrado por Trump?

    O diagnóstico de Trump, quando comparado à realidade, não se sustenta:

    1. O desemprego nos Estados Unidos está abaixo de 5%;
    2. A inflação, perto de zero;
    3. O valor dos investimentos na bolsa americana subiu mais de 150% desde a crise financeira global, iniciada em 2008.

    Esse parece ser um ambiente propício para duras críticas à economia? Faz sentido Trump buscar votos com o discurso da decadência econômica americana?

    Neste momento, pedimos a sua licença para tirarmos o nosso chapéu de economistas e vestirmos o avental de sociólogos.

    SE NÃO É A ECONOMIA, O QUE É?

    A economia é sempre um fator importante nas escolhas políticas. Quando ela vai bem, a situação tende a se manter no poder. Mas eleitores também votam levando em consideração aspectos culturais, preconceitos e lealdades de grupo.

    Em um país rico, em que a maioria da população pode dormir sem medo da fome ou de balas perdidas, essas coisas contam. Eleitores têm tempo de sobra para se preocupar com outras questões. Debates sobre desde o uso de banheiros públicos por transgêneros até questões morais profundas, como a legalidade ou não do aborto, são mais comuns para essas pessoas.

    O direito de escolha das mulheres sobre o aborto, aliás, talvez seja o tema que mais divide opiniões entre eleitores americanos. Pesquisas de opinião apontam: aproximadamente metade da população é contra; a outra metade, a favor.

    Em ambos os lados do debate, muitos americanos têm posições apaixonadas. Jamais admitiriam votar em um candidato desalinhado com a própria opinião.

    Se Trump tiver 40% dos votos, bem possivelmente, a sua votação será igual ao piso que qualquer outro candidato republicano também teria.

    Mas ainda resta uma questão em aberto...

    COMO TRUMP CONSEGUIU CHEGAR LÁ?

    Nos Estados Unidos, candidatos a presidente são escolhidos por eleições primárias. Em 2016, aproximadamente 15% dos eleitores votaram pelo lado republicano. Trump venceu com 45% dos votos dessa parcela.

    Ou seja, Trump conseguiu ser indicado, na prática, com o apoio de apenas 7% dos americanos em idade de votar; e com o empurrão de menos de 15% dos americanos que devem votar no dia 8 de novembro.

    De acordo com as prévias, portanto, simpatizam com as ideias mais corrosivas de Trump menos de 15% do eleitorado americano. Os votos além desses 15% tendem a vir, majoritariamente, de eleitores contrários ao aborto.

    Se acertarmos nossas apostas, boa notícia: os Estados Unidos recusarão uma mudança para pior e (agora voltando a vestir nossos chapéus de economistas) não precisaremos ter medo de uma escalada radical protecionista.

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