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    Reinício pífio

    10/08/2014 02h00

    Início pífio foi o título de capa da revista Veja no dia 7 de outubro de 1992. Referia-se aos primeiros dias do governo Itamar Franco, acusado de montar um ministério de compadres. Não parece tão diferente o reinício do futebol brasileiro, 32 dias depois dos 1 a 7 para a Alemanha.

    Esperava-se uma enorme reflexão sobre o momento atual da seleção. A CBF ainda não deu sinais disso.

    A primeira partida de uma seleção depois do colapso acontecerá na próxima terça-feira, em Valencia. O Brasil sub-20 enfrentará o Qatar pelo torneio de Cotif.

    A lista de 22 convocados pelo técnico Gallo indica a manutenção de vícios antigos do futebol de base. Treze têm mais de 1,80 m e dezoito nasceram antes de setembro.

    Meninos nascidos no segundo semestre costumam ter uma desvantagem no esporte: são mais jovens e, por isso, menores.

    É um risco partir da premissa de que a nova seleção sub-20 tem defeitos por ter alta estatura. Dos 23 convocados da Alemanha para a Copa, só três tinham menos de 1,80 m. Um deles era o capitão Lahm, outro era Götze, autor do gol do título.

    O futebol brasileiro começou a apostar na força nos anos 70, tempo em que se dizia que Rubens Minelli preferia um gigante a um pequenino. "Isso é uma aberração! É claro que em primeiro lugar sempre tem de prevalecer a qualidade técnica", desmente Minelli.

    Gallo recebeu críticas por preferir jogadores de força em alguns clubes por onde passou. No Figueirense, conta-se que fazia treinos entre titulares e juniores proibindo os treinadores da base de assistir. "No Inter, isso não acontecia", diz o ex-presidente Fernando Carvalho.

    Dos convocados para Valencia, o volante Eduardo, do Atlético-MG, é bom. Nasceu em maio de 1995 e tem 1,84 m.

    Também é excelente o volante Lucas Otávio, emprestado pelo Santos ao Paraná Clube, nascido em outubro de 1994, de 1,64 m. Mas este não foi convocado.

    Gallo preferiu cabeças-de-área fortes, mas selecionou meias pela habilidade. Boschillia, do São Paulo, e Matheus Biteco, do Grêmio, 1,72 m, estão na lista. Carlos, do Atlético-MG, 1,78 m, não está.

    Há quatro anos, a primeira convocação de Ney Franco tinha Lucas, Oscar e Neymar. Havia mais talento.

    Gallo não pode ser acusado de nada. Seu trabalho só está em foco porque foi o único mantido depois da Copa e por sua proximidade com a cúpula da CBF. Felipão, Parreira e até o roupeiro Barreto caíram. Gallo ficou.

    O ministério de compadres de Itamar Franco, um pouco mudado, lançou o Plano Real.

    A proximidade com a cúpula não precisa necessariamente ser ruim. Gallo pode ser bom, mas é importante colocar olhos de lince na seleção sub-20 que estreia na terça. Dela não saírá apenas a base olímpica. Nascerão as seleções de 2018 e 2022.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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